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Cem dias de Maduro
Alçado a presidente interino em dezembro por vontade de Hugo Chávez, o ex-chanceler venezuelano Nicolás Maduro completou cem dias de governo incapaz de demonstrar que tem condições de sobreviver longe da sombra do mentor, ainda insepulto.
Para a eleição presidencial do dia 14, o deficit de personalidade própria não chega a ser tão prejudicial. Lastreado numa retórica religiosa, Maduro faz campanha comparando Chávez a Cristo e se proclama seu apóstolo. Ao mesmo tempo, lança ataques baixos contra o adversário Henrique Capriles até com insinuações sexuais.
Seguindo o manual chavista, o aprendiz de caudilho abusa da máquina estatal e permanece horas ao vivo nos meios de comunicação oficiais, que ignoram a campanha oposicionista sob a complacência do Conselho Nacional Eleitoral. O CNE, por outro lado, abriu investigação contra três pequenos jornais por publicarem propaganda de Capriles promovida por uma ONG, o que a lei eleitoral não permite.
A campanha emotiva tem conseguido deixar em segundo plano a precária situação econômica do país. Maduro anunciou na semana passada, por exemplo, um novo sistema de leilão de dólares para empresas, com o objetivo de minorar a crônica falta de alimentos -quase sempre importados- nas prateleiras dos supermercados.
Em fevereiro, o governo já se vira obrigado a desvalorizar em 32% o bolívar forte, medida insuficiente para acalmar o mercado paralelo, que opera com cotação quatro vezes maior que a oficial.
A origem das dificuldades está na situação delicada da PDVSA, a estatal petroleira que serve de fonte de financiamento dos programas sociais de Chávez. O derrame de recursos pela empresa mascara a péssima administração do sistema educacional e o recurso a iniciativas sociais fracassadas, como as comunas de inspiração soviética.
Apesar de certa recuperação no preço de petróleo em relação a 2011, a PDVSA, cada vez mais dependente de aportes chineses, viu seu lucro cair 6,1% em 2012, segundo os números pouco confiáveis do governo. Seus cofres não podem sustentar o regime para sempre.
A comoção provocada pela morte de Chávez e a campanha eleitoral curta colocam Maduro como favorito, segundo as pesquisas de opinião. Mais difícil é prever como o chavismo, precariamente unido em torno de um líder sem brilho próprio, se sairá quando tiver de adotar medidas mais impopulares no campo econômico.
Apenas adiar o enterro de Chávez não será, então, o bastante.