Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Casamento sem dogma

Enquanto se discute, na Suprema Corte dos Estados Unidos, a constitucionalidade de uma emenda proibindo o casamento gay no Estado da Califórnia, vem do Líbano uma notícia surpreendente.

Ao menos para quem julgava ser totalmente laico o regime jurídico naquele país árabe, surge como inesperada -e auspiciosa- a informação de que, pela primeira vez, foi possível realizar-se lá um casamento civil. Heterossexual, bem entendido.

Foi graças a uma burla, na verdade, que a sunita Nidal Darwish logrou celebrar seu matrimônio com o xiita Kholoud Sukkarieh. Ainda que o credo religioso não fundamente a ordem legal no Líbano, no direito de família prevalecem as orientações vigentes para cada uma das 18 crenças oficialmente reconhecidas. Retirando de seus documentos a filiação religiosa, Nidal e Kholoud conseguiram validar sua união apenas à luz da legislação civil.

O caso dos dois ativistas em prol da plena separação entre igreja e Estado atraiu, como não podia deixar de ser, o anátema de autoridades religiosas muçulmanas.

Nada pareceria mais distante das polêmicas em curso em vários países ocidentais, nos quais se acelera a aceitação dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Neste lado do mundo, lideranças religiosas condenam, mesmo na esfera laica e civil do Estado moderno, a união homossexual.

Nos anos pós-1968, as bandeiras do "amor livre" e a crítica acerba à instituição familiar faziam prever que os laboriosos rituais do matrimônio, com seu lastro de compromissos mútuos e expectativas de durabilidade, figurariam em breve nas prateleiras de um museu.

Nessa perspectiva, a ideia do casamento gay parece ser mais um sinal da vitalidade da ideia tradicional do casamento do que uma intensificação da voga libertária. Procura-se, com efeito, fortalecer uma situação de estabilidade familiar, compromisso pessoal e construção de vida em comum, para além do que muitos condenam como encontro fugaz entre pessoas entregues a uma atração pecaminosa.

É como se, num paradoxo, a religião servisse de pretexto para desunir aquilo que o desejo e o amor buscam constituir de modo estável, se não permanente.

Avessos às limitações impostas a xiitas e sunitas, Nidal Darwish e Kholoud Sukkarieh não se insurgiram contra a instituição do casamento. Ao contrário, celebram-na -assim como procuram fazer casais homossexuais em várias paragens, a despeito de tantas forças militando por sua separação.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página