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Opinião

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Futebol exemplar

Quase dois meses após os acontecimentos fatídicos que cercaram a partida entre San José e Corinthians, na Bolívia, as equipes voltam a enfrentar-se em São Paulo.

O encontro anterior, no dia 20 de fevereiro, em Oruro, foi marcado pela morte do boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada, 14. O rapaz foi abatido por um sinalizador disparado da área em que se reunia a torcida do clube brasileiro.

Na ocasião, 12 torcedores corintianos foram detidos pela polícia local. Permanecem encarcerados até hoje, sob a alegação de que foram "surpreendidos em flagrante" -embora alguns nem estivessem na arquibancada no momento do ato irresponsável e criminoso.

Dias depois da tragédia, um torcedor do Corinthians, menor de idade, apresentou-se no Brasil como autor do disparo. Informações sobre o caso já foram enviadas à Justiça boliviana, que reagiu à confissão com aparente descaso.

Independentemente do mérito, questionam-se os procedimentos até aqui adotados pelo país vizinho, que suscitam apreensão quanto à perspectiva de um processo justo. A acusação é vaga; os detidos não foram atendidos em prerrogativas básicas, como o direito a usar tradutores; a defesa não tem obtido acesso aos autos.

A situação preocupa ainda mais porque a legislação boliviana permite estender a prisão preventiva a até 18 meses sem acusação formalizada e até 36 meses sem a definição de uma sentença.

Não se podem acusar as autoridades brasileiras de omissão. Os detentos receberam a visita de uma comitiva de parlamentares, e o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse em audiência no Senado que tem feito gestões com o governo de Evo Morales para um encaminhamento mais transparente e razoável do processo.

Dadas as circunstâncias, seria o caso de considerar manifestações mais incisivas, talvez da própria Presidência da República. Há, contudo, um complicador diplomático: o Brasil concedeu, no ano passado, asilo em sua embaixada ao líder oposicionista boliviano Roger Pinto Molina, que se declarou vítima de perseguição política.

Hoje à noite, no estádio do Pacaembu, haverá demonstrações em prol dos detidos. Que transcorram de modo pacífico e não se repitam comportamentos impróprios de torcedores, jogadores ou policiais -como observado em partida recente contra equipe argentina.

Os brasileiros têm razão em criticar atitudes que julgam arbitrárias ou violentas em gramados estrangeiros. Mas, como sede da Copa de 2014, precisamos dar o exemplo.


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