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Haddad e a dívida

Renegociação de obrigações financeiras com a União é a chave para que São Paulo possa acelerar o atendimento dos anseios de sua população

A fama atribuída ao eleitor paulistano, de ser um dos mais severos do país na avaliação de governantes locais, saiu reforçada no Datafolha sobre os cem primeiros dias da gestão Fernando Haddad. O petista, eleito com 56% dos votos válidos no final de outubro, era aprovado por 31% no início de abril.

Ainda assim, o candidato ungido pelo ex-presidente Lula pode dizer que obteve resultado relativamente favorável no início de sua administração. Arranca melhor que os antecessores Paulo Maluf, Celso Pitta, José Serra e Gilberto Kassab ao completaram seus cem dias.

Essa avaliação também decorre, é verdade, de uma estreia bem convencional, para não dizer anódina. Haddad se limitou a cumprir a promessa de reembolsar a taxa da inspeção veicular e a criar uma controladoria para atacar o problema crônico da corrupção.

A exigência algo impaciente dos moradores da capital em relação a seus prefeitos encontra respaldo nas difíceis condições objetivas da vida na metrópole. Reflete, antes de mais nada, o descompasso entre a escassez de infraestrutura e renda, de um lado, e as necessidades cotidianas de uma multidão de habitantes que já chega a 11 milhões, do outro.

Quando a economia do país caminhava próxima da estagnação, durante os 25 anos após 1980, problemas muito evidentes na São Paulo de hoje ficaram encubados.

Desemprego e pobreza também inibem a circulação de pessoas, seja no transporte coletivo, seja em carros e motocicletas. Na batalha pelo pão de cada dia, relegam-se a segundo plano preocupações menos imediatistas, como as relativas aos sistemas de educação e saúde.

Bastaram alguns anos de melhoria contínua na renda para que a dimensão titânica das carências nos serviços públicos aflorasse.

Do transporte coletivo ao individual, da limpeza urbana aos sistemas de drenagem, da regulação dos alvarás à qualidade do ensino, do atendimento médico à gestão das áreas de risco, São Paulo tornou-se minúscula diante dos anseios de sua população emergente.

O erário municipal, contudo, vendeu parte do futuro da cidade em meados dos anos 1990, em troca de obras e despesas imediatas, algumas questionáveis, outras absurdas e suspeitas. Endividou-se a ponto de estar hoje impedido de satisfazer, num ritmo aceitável, demandas crescentes de melhoria.

A fim de salvar o município da bancarrota, a União assumiu a dívida paulistana e vem cobrando, há mais de uma década, a devolução desses valores, a juros e correção monetária que, somados, às vezes atingem onerosos 17% ao ano.

Eram condições compatíveis com um país que lutava para estabilizar a moeda e cujo Tesouro arcava com um custo de sua dívida ainda mais elevado do que o arbitrado para São Paulo.

Esse drama passou, felizmente. É justo que a Prefeitura de São Paulo usufrua do substancial progresso financeiro do país, bônus de que tem sido privada pelos termos extemporâneos de sua dívida.

Nada é mais importante para o futuro de Haddad e de seus sucessores do que renegociar bem --e logo-- esse acordo com a União.


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