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Opinião

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André Singer

Pinça sindical

Em paralelo ao mundo das instituições, ocupado por um confronto entre os Poderes que não corresponde aos interesses de classe, no fundo da cena atores sociais cavaram a trincheira para mais uma rodada de disputa entre capital e trabalho. No 1º de Maio as duas maiores centrais sindicais do país realizaram um movimento de pinça sobre o governo, obrigando-o a abrir uma frente de luta até agora evitada.

Enquanto a Força Sindical levantava a bandeira do gatilho diante da inflação, a CUT forçava o Executivo a negociar em torno de problemas relativos à terceirização, alta rotatividade e formalização do emprego ou, em outras palavras, ao redor da desprecarização das condições de trabalho no Brasil.

Somadas, as duas iniciativas incidem sobre os nervos das relações produtivas --massa de salários e grau de proteção que os trabalhadores dispõem diante do arbítrio capitalista-- e recolocam o conflito distributivo no centro do debate. Pouco importa, para efeito do resultado final, que por trás de ambos os procedimentos existam contradições internas e jogadas que dizem respeito à disputa pela representatividade de cada corrente no interior do movimen- to trabalhista.

Mesmo atuando aos saltos no espectro ideológico --o que lhe tira credibilidade--, Paulo Pereira da Silva percebeu que o baixo crescimento dos últimos anos vai diminuir, no próximo período, o aumento médio que o salário mínimo teve na última década. Alerta para o efeito futuro da relativa estagnação do piso salarial, introduziu na pauta o tema da reposição automática das perdas inflacionárias. A proposta tem óbvia ressonância entre os que ganham menos.

A esperteza da manobra acicatou a rival de Paulinho, que se viu obrigada a reassumir a posição de pressão já esboçada na grande marcha a Brasília em 6 de março passado. Às vésperas do Dia do Trabalho, sem nada para contrapor ao deputado da Força, o presidente da CUT, Vagner Freitas, declarou: "Não há nenhuma sinalização de negociação e vamos preparar nossos trabalhadores para intensificar a mobilização e discutir a estratégia para ampliar a luta unificada". Diante da ameaça, em decisão de última hora na terça, 30 de abril, a presidente da República concedeu a abertura de uma mesa de negociação com as centrais marcada para começar no próximo dia 14.

Nessa mesa, Dilma Rousseff tende a ficar ensanduichada entre demandas por ora inconciliáveis, pois, à medida que os empresários optaram por dar prioridade à redução do custo da mão de obra, dissolveu-se o esboço de pacto que orientou o ensaio desenvolvimentista de 2011-2012. Aguardemos os próximos rounds.


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