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Ruy Castro

Velhinhas-espiãs

RIO DE JANEIRO - Os motoristas de ônibus cariocas, na pressa de chegar ao destino --ou ao cemitério, o que vier primeiro--, deveriam pensar duas vezes antes de ignorar a senhorinha de cabelos brancos que lhes faz sinal no ponto e seguir adiante feito centauros. Eles não gostam de interromper sua prova de velocidade para atender passageiros com direito à gratuidade. Pois, agora, isso pode render-lhes ser interceptados num bloqueio à frente pela Secretaria de Transportes e levar uma bronca diante dos passageiros, além da multa.

A velhinha na calçada não é tão inofensiva, mas uma aposentada a fim de se vingar dos motoristas que a deixam micada no ponto. É uma das agentes secretas que, voluntariamente, estão servindo de isca para a prefeitura. E não fazem isso sozinhas --ao seu lado no ponto está um fiscal à paisana, munido de um celular, um talão e uma cara amarrada.

A ideia de usar velhinhas-espiãs para ajudar a moralizar os transportes deveria se estender a outros serviços. Elas seriam perfeitas, por exemplo, para acompanhar o andamento das obras da Copa nas diversas sedes, observando de suas janelas as entradas e saídas do mesmo caminhão de areia ou de brita nas "arenas" em construção, e passando um recadinho para o Ministério Público.

E ninguém melhor para fiscalizar a cozinha dos restaurantes. Bastaria "errar" o caminho para o toalete e, uma vez na cozinha, puxar assunto com o chefe enquanto aplicavam seu exigente olhar ao aspecto dos alimentos, à higiene geral e ao destino do conteúdo dos pratos que voltam do salão. O fiscal da Anvisa a estaria esperando na mesa para dar o bote.

Se deixassem aflorar a Miss Marple (a detetive de Agatha Christie) que têm dentro de si, essas velhinhas descobririam que a vida pode ser melhor do que passar o dia em casa ao embalo do Lexotan e morrendo diante da TV.


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