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Opinião

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Uma árdua missão

Conquista do posto de diretor-geral da OMC por brasileiro prestigia o país; órgão enfrenta desafios que podem se tornar insuperáveis

O Brasil obteve um trunfo diplomático com a eleição de seu candidato, Roberto Carvalho de Azevêdo, para diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). É a primeira vez que um latino-americano chega ao cargo --o outro postulante finalista era Hermínio Blanco, do México.

A OMC, que congrega 159 países, é o principal fórum multilateral para a solução de controvérsias comerciais e a promoção de políticas de liberalização das transações internacionais.

A indicação de Azevêdo, engenheiro e diplomata de carreira, reforça o "soft power" brasileiro e reflete o peso crescente das economias emergentes no mundo. Trata-se, contudo, de uma missão com consideráveis chances de redundar em insucesso.

Não que se duvide do preparo do eleito. Ao contrário, sua capacidade é amplamente reconhecida --Azevêdo atua na OMC desde 2008 como hábil negociador do Brasil. O novo diretor já se mostrou competente na busca de acordos, além de possuir minucioso conhecimento das dificuldades ora enfrentadas pela organização.

A principal delas será ressuscitar a chamada Rodada Doha --ou pelo menos evitar que seja sepultada ainda sem conclusão.

Esse ciclo de negociações, lançado na capital do Qatar em 2001, visa a complementar o anterior, a Rodada Uruguai, concluída em 1994. Sua missão é aprofundar a redução geral de tarifas e obstáculos comerciais --numa palavra, a liberalização-- como contrapartida de um corte drástico, pelos países ricos, de subsídios e barreiras a produtos agrícolas.

O Brasil apresentou-se como um dos protagonistas das negociações, que começaram por esbarrar na intransigência dos EUA e da União Europeia. Com a crise financeira de 2008, o impasse tornou-se paralisia.

Com efeito, seria fantasioso imaginar que os países desenvolvidos, premidos pela estagnação e pelo desemprego, admitissem fazer concessões justamente agora.

Também o Brasil, que em troca de vantagens no comércio agrícola acenou com o corte de tarifas industriais e sobre serviços, vive um período de recrudescimento protecionista. As dificuldades competitivas da indústria nacional e a notória vocação intervencionista do governo Dilma Rousseff não deixam espaço para propostas que possam fazer a rodada avançar.

Paralelamente ao malogro iminente de Doha, vários grupos de países optaram por acordos bilaterais de livre-comércio e pela integração de cadeias produtivas em escala internacional --este, infelizmente, não é o caso do Brasil.

O mais ambicioso desses entendimentos poderá reunir num mesmo bloco comercial, em futuro incerto, EUA e Europa, responsáveis por metade da riqueza do mundo. Caso tal pacto se concretize, o papel da OMC na definição de uma nova ordem comercial perderia ainda mais relevância, apesar de continuar como órgão central para arbitragem de contenciosos.


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