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Opinião

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Marcos Troyjo

TENDÊNCIAS/DEBATES

O significado da vitória na OMC

Em vez de aumentar a competitividade, o Brasil optou por uma política externa que gera simpatia, mas pouco fluxo de comércio

A eleição do diplomata Roberto Azevêdo à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) representa uma grande vitória do Brasil. A questão, no entanto, é como transformá-la numa vitória para o Brasil.

Globalmente, o discurso brasileiro tem soado mais alto do que suas conquistas econômicas. Sua ideia de reputação está entrelaçada com a tarefa de atualização da ONU. Tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança. Fortalecer o comércio multilateral mediante a OMC. O Brasil parece saber o que quer para o mundo. Não necessariamente o que quer do mundo.

Do ponto de vista das relações internacionais, revela-se a falta de um projeto brasileiro sofisticado em termos de influência e prosperidade. No Brasil, cuja expansão econômica atrofiou-se há mais de dois anos, colhemos o resultado de preferências por políticas externas com bases ideológicas e ênfase em afinidades políticas. Pouca atenção ao pragmatismo econômico, ao estabelecimento de acordos de livre comércio e à promoção comercial bilateral.

Fortalecer a cooperação Sul-Sul tem sido prioridade. As diversas geometrias promovidas pelo Brasil na América Latina, seja usando o Mercosul, a União de Nações Sul-Americanas ou a Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos, rendem abundantes discursos sobre um mundo mais equânime, mas poucos resultados econômicos tangíveis.

Em vez de promover reformas microeconômicas internas e estabelecer robustas agências de negócios nas cidades globais da América do Norte, Europa ou Ásia, os estrategistas brasileiros julgaram de maior impacto para suas ambições multilaterais abrir postos diplomáticos em cidades como Baku, Belmopã, Basse-Terre, Castries, Conacri, Cotonou, Cartum, Gaborone, Malabo, Nouakchott e Uagadugu. Isso angaria simpatia e votos na OMC e outros fóruns, mas pouco fluxo de comércio.

Muitos acreditam que a baixa participação do Brasil no comércio mundial (pouco mais de 1% de tudo que se compra e vende no mundo) e do comércio exterior no Brasil (em torno de 20% do PIB) é fruto do protecionismo dos países mais ricos. Tal injustiça só poderia ser corrigida mediante negociações em tabuleiros como a OMC. E sem dúvida as negociações globais "governo a governo" são importantes.

Mas centrar a inserção comercial na busca de um "final feliz" para as negociações multilaterais nos faz perder foco. É como se um país desejasse tornar-se potência do futebol mundial colocando o cerne de sua estratégia em bons representantes na sede da Fifa.

Não se pode afirmar que acordos multilaterais tenham sido responsáveis pela decolagem rumo ao crescimento de qualquer país nos últimos 30 anos. Coreia do Sul, China e Chile acresceram suas rendas nacionais sem negociações multilaterais como principal elemento de sua estratégia. Eles buscaram fortalecer suas capacidades internas de competir e abriram mercados para seus produtos. Ou seja, cuidaram primeiro de seu interesse nacional.

Mega-acordos comerciais como a Aliança Transatlântica (EUA e Europa) ou a Parceria Transpacífica (que envolve parceiros da Américas do Norte e do Sul, Ásia e Oceania) ou mesmo a metamorfose em curso na economia chinesa serão mais delineadores da "reglobalização" do que a OMC.

No entanto, longe de irrelevante, ter um excelente profissional brasileiro à frente do mais representativo organismo do comércio internacional é motivo de celebração e orgulho. O risco é enxergarmos na vitória na OMC a legitimação da insular política comercial brasileira dos últimos anos.

O Brasil tem não apenas de contribuir para a definição da geografia do comércio no século 21, mas, sobretudo, tem de definir o lugar que deseja ocupar em tal mapa.


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