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Opinião

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A confecção do sangue

O trágico desmoronamento da fábrica Rana Plaza, na periferia da capital de Bangladesh, Daka, em 24 de abril, escancarou as péssimas condições de trabalho no segundo maior polo da indústria têxtil mundial, atrás somente da China.

O prédio só tinha autorização para cinco andares, mas ganhou outros três. Mais de 3.000 pessoas trabalhavam no local quando o edifício ruiu, das quais ao menos mil morreram -mais de duas semanas depois, o número de corpos resgatados continua subindo.

A notícia ganhou repercussão global pelo peso de Bangladesh na cadeia mundial de confecções. Muito do que era produzido em Rana Plaza portava a etiqueta de marcas internacionais famosas. Algumas das peças são vendidas no exterior a preço acima do valor do salário mínimo local, R$ 75.

Acidentes na indústria têxtil para exportação são frequentes em Bangladesh, que detém o 146º lugar, entre 186 nações, no ranking de desenvolvimento humano da ONU. Em 2012, por exemplo, um incêndio na fábrica Tazreen Fashions deixou pelo menos 112 mortos.

Legislação trabalhista e ambiental frouxa, ausência de sindicatos e numerosa força de trabalho têm atraído cada vez mais fábricas com uso intensivo de mão de obra a Bangladesh, Índia e outros países asiáticos pobres. Muitas são transferidas da China, cujo salário mínimo progride paulatinamente.

O Brasil, onde trabalhadores bolivianos já foram flagrados em situação semelhante, também é cliente de Bangladesh. No ano passado, as importações desse país foram de US$ 186 milhões, um aumento de 19% em relação a 2011 -quase tudo em produtos têxteis.

Sob críticas de organizações não governamentais e governos estrangeiros, algumas empresas anunciaram o fim de sua produção em Bangladesh. Temendo perder milhões de empregos, Daka tem exortado companhias multinacionais a continuar no país e promete aprimorar a fiscalização.

O ideal seria que as empresas estrangeiras e seus consumidores pressionassem fornecedores de Bangladesh a melhorar as condições de trabalho e os salários. Tais avanços, contudo, encareceriam a produção, solapando o principal atrativo do país asiático.


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