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Carlos Eduardo Soares Gonçalves

Nixon, Lindbergh e a independência do BC

Agora Lindbergh desengaveta uma proposta de autonomia do Banco Central. Vindo dele, menino estrela do PT, a coisa ganha credibilidade

Foi um republicano que, como presidente dos Estados Unidos, viajou à China no começo dos anos 70 para reatar os laços entre os dois países. De fato, Richard Nixon era a pessoa justíssima para a tarefa.

Um conservador buscar aproximação com os chineses pode soar estranho, mas foi o que tornou a estratégia crível. Pense no contrário: como um liberal lograria convencer a sociedade de que a movimentação seria dissociada de seu viés ideológico?

Já no caso de um falcão, o horror ao comunismo elimina dúvidas. O entendimento geral passa a ser: "Essa política só pode ser benéfica ao país". Com efeito, a expressão "Nixon in China" tornou-se usual para descrever esse tipo de fenômeno.

Há versões tupiniquins da mesma lógica. Sugiro duas: Lula e a Previdência e Lindbergh e o Banco Central autônomo. Que tal?

Pense num governo tucano propondo impor um teto para a gorda previdência dos funcionários públicos. Se não estou enganado, eles até tentaram. "Bando de neoliberais!" são os gritos que escuto.

Mas Lula não. Lula não é neoliberal, é homem do povo. E se ele, lá em 2003, afirmava que era preciso reformar a Previdência, e tocou a reforma adiante, é porque ela de fato era necessária para o Brasil.

Agora o senador Lindbergh Farias desengaveta uma proposta do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) sobre a autonomia do BC. Vindo dele, menino estrela do PT, a coisa ganha credibilidade.

Imagine o prezado leitor se a proposta tivesse saído do gabinete do presidenciável Aécio Neves ou da tal Casa das Garças, reduto dos pais do Plano Real. Como a sociedade poderia estar certa de que a ideia não seria destinada a atrapalhar a vida da presidente Dilma Rousseff?

E por que mesmo é importante descasar os mandatos dos diretores do BC dos mandatos do Executivo e tornar a demissão deles mais difícil, requerendo aprovação parlamentar?

Porque os horizontes e interesses dos políticos em geral não coincidem com os da sociedade. Assim, uma orientação monetária politicamente boa, daquelas que dão uma empurrada na atividade econômica no curto prazo, mas deixam um legado de inflação difícil de ser revertido mais à frente, vai sempre ser favorecida por um Executivo de olho na reeleição.

Mas, nesse caso, o que é bom para o governo não é bom para a sociedade, porque a inflação ganha persistência. E é aí que entra nosso herói, o BC independente.

Mas não teria o BC os mesmos incentivos para dar uma estimulada efêmera no crescimento econômico? Não, porque, passada a euforia e chegada a inflação, ele seria cobrado pela consequência adversa de seus atos. Além disso, uma diretoria independente não tem qualquer ganho em agradar os políticos.

Por fim, deixo uma sugestão ao senador Lindbergh. Incluir na proposta a necessidade de parte da diretoria não ser formada por funcionários de carreira. São profissionais extremamente capacitados, não me entenda mal. Mas se o objetivo é termos um BC que não precise se sujeitar à política, é importante que parte dos diretores se sinta à vontade para pedir para sair caso a pressão consiga se inserir por alguma fissura da nova legislação.


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