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Ronaldo Laranjeira

Recomeço: direito a uma nova vida

A expressão "bolsa crack" é, além de abominável, um desserviço à população e um desrespeito aos próprios dependentes e familiares

Por muito tempo, perdurou na sociedade o entendimento de que as drogas são um caminho sem volta.

Apenas alguns poucos privilegiados, oriundos de famílias com altíssimo poder aquisitivo, podiam bancar tratamentos em clínicas particulares, no Brasil ou no exterior.

O crack, droga tão barata quanto avassaladora, invadiu as cidades brasileiras e causou um sem-número de dependentes, muitos de famílias humildes com pouco ou nenhum respaldo do poder público.

Instalou-se uma nova epidemia, que além de mortes gera desespero e angústia. Muitos dependentes, abandonados pelas famílias, vagam pelas ruas, moribundos, e caminham para um provável desfecho trágico. Mas vários deles querem se livrar dessa nefasta dependência.

O governo do Estado de São Paulo entende que essas pessoas têm o direito de recomeçar uma nova vida, e que isso passa necessariamente pelo adequado acolhimento, pelo tratamento psiquiátrico, que poderá auxiliá-los a abandonar o uso da droga, e por um período de recuperação essencial para a reinserção familiar, social e econômica.

O programa Recomeço, lançado pelo governador Geraldo Alckmin, sintetiza essa disposição. Simboliza uma esperança ao usuário e à sua família, ao incentivar a procura espontânea por assistência especializada. E institui mecanismos para garantir o tratamento mesmo dos mais resistentes, nos casos considerados mais graves, dentro do já estabelecido em lei.

O projeto implantado na capital paulista, com o plantão judiciário e a unidade social do Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas), ganhou recentemente o imprescindível apoio da Prefeitura de São Paulo, por meio da disponibilização de resgate especializado do Samu aos dependentes e da descentralização do atendimento por intermédio de 24 Caps Ad (Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas).

Agora, o governo paulista acaba de lançar para cidades do interior e litoral o Cartão Recomeço. Trata-se de uma iniciativa fundamental, que irá assegurar a oportunidade de efetiva recuperação dos dependentes por meio de financiamento de uma etapa crucial do tratamento.

Após a fase de estabilização, os pacientes serão supervisionados em comunidades terapêuticas credenciadas pelo governo ou em moradias assistidas (casas de recuperação em área urbana).

No fundo, esse modelo social de recuperação complementa o modelo médico de tratamento. Após a abstinência, vem a reconstrução, que precisa ser feita num ambiente estável e que fortaleça princípios de valorização da vida.

O crédito para o tratamento será de R$ 1.350 mensais, a ser depositado diretamente ao serviço contratado. O valor não será entregue ao dependente ou a seu familiar.

Por isso mesmo, a expressão "bolsa crack", utilizada por alguns, é, além de abominável, um desserviço à população e um desrespeito aos próprios dependentes e familiares.

As comunidades terapêuticas prestam inestimável serviço à recuperação de dependentes químicos. São extremamente úteis nos casos em que o paciente não tem indicação de internação, mas precisa de apoio para o restabelecimento de seu vínculo familiar e social. Do mesmo modo, auxiliam a recuperação de pacientes que já passaram por internação hospitalar para estabilizar seus quadros agudos de dependência. E é preciso deixar claro que as comunidades terapêuticas não são novidade na saúde mental. Pelo contrário: foram previstas na reforma psiquiátrica de 2001.

Com o novo cartão, São Paulo dá um passo decisivo no fortalecimento da rede de proteção aos dependentes de crack, proporcionando a todos eles, e não apenas aos poucos privilegiados por sua origem abastada, uma verdadeira chance de recomeçar.


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