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Opinião

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Votos e vetos divinos

Ao impedir um fundador da República Islâmica do Irã de concorrer ao pleito presidencial de 14 de junho, a cúpula do regime reitera o autoritarismo pujante sob a liturgia democrática das eleições.

Ali Akbar Hashemi Rafsanjani ostentava boas credenciais para ser aprovado pelo Conselho de Guardiães da Revolução, órgão constitucional de orientação religiosa que chancela aspirantes a cargos eletivos. Clérigo xiita, Rafsanjani lutou ao lado do aiatolá Khomeini para derrubar, em 1979, a monarquia pró-Ocidente do xá Reza Pahlevi e implantar uma democracia sob tutela clerical.

Rafsanjani ocupou algumas das mais altas funções no Irã. Seus dois mandatos na Presidência (1989-1997) são bem avaliados, tanto na administração do país quanto na política externa. Manteve-se desde então na órbita do regime, acumulando cargos consultivos e negócios no setor privado.

A relação entre Rafsanjani e Ali Khamenei (líder supremo que sucedeu Khomeini), contudo, sofreu contínuo desgaste, culminando com o apoio do ex-presidente à revolta popular contra notórias fraudes na reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, em 2009.

A brutalidade repressiva naquele ano abriu um capítulo sombrio na história do país. A oposição reformista foi amordaçada. As liberdades individuais minguaram sob um implacável aparato de segurança. Proliferaram as detenções arbitrárias, denúncias de tortura e execuções em praça pública.

Condenado mundialmente, o endurecimento contaminou as negociações nucleares e enfraqueceu o Irã diante das grandes potências. As últimas sanções bancárias e comerciais são as mais duras já impostas a Teerã.

As exportações de petróleo, vitais para o regime, estão no nível mais baixo desde os anos 80. A moeda perdeu mais da metade do seu valor em relação ao dólar desde 2011. A inflação supera 30%.

A adversidade econômica pressiona a classe média, camada predominante na população, que vê seu nível de vida deteriorar-se a cada ano. Uns culpam o governo, outros, os países ocidentais.

Embora seja limitado o poder do presidente, Rafsanjani era tido como o homem certo para dar às políticas interna e externa um verniz de pragmatismo. Sua participação na disputa teria permitido ao regime reconciliar-se com a vertente republicana de seu peculiar sistema de governo.

A cúpula do Irã já conviveu com várias derrotas, como a eleição do reformista Mohamad Khatami em 1997. A exclusão de Rafsanjani é mais um sintoma de que teme pela própria sobrevivência do regime.


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