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Opinião

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Ney Figueiredo

TENDÊNCIAS/DEBATES

Uma eleição inesquecível

Um mito pode ser derrotado, desde que se use a estratégia certa. Capriles teve o cuidado de não fazer da desconstrução de Chávez o fulcro da campanha

Todos aqueles que já participaram profissionalmente de uma eleição direta sabem o quanto é difícil derrotar um mito ou um líder carismático. Quando as condições são adversas, como no caso das recentes eleições venezuelanas, a missão é quase impossível.

A estratégia a ser aplicada é de difícil equação. Era impossível negar que os programas sociais de Hugo Chávez, graças à renda proveniente do petróleo, tiraram uma boa parcela da população da miséria absoluta. Durante seu tratamento contra o câncer em Cuba, vigílias oravam por seu pronto restabelecimento. E eram transmitidas ao vivo.

Quando ele morreu, após ter sido eleito para um quarto mandato, analistas achavam que as oposições seriam de novo derrotadas pelo mito Chávez. E a certeza era fortalecida pelo fato de elas terem sido banidas das rádios e TVs, que estavam sob a tutela governamental.

Daí a grande surpresa quando as urnas foram abertas, revelando que a vitória do candidato situacionista tinha sido de pouco mais de 1% dos votos. Se é que realmente ocorreu, pois os indícios de fraude apontam que o resultado pode ter sido outro.

Essas eleições memoráveis guardam ensinamentos importantes. Os mitos podem ser derrotados, desde que se utilize a estratégia correta.

Preliminarmente, a oposição tratou de ter um candidato viável, Henrique Capriles, governador da importante província de Miranda, que já havia concorrido outras vezes.

Depois, teve o cuidado de não transformar a desconstrução de Chávez no fulcro da campanha, mas sim de demonstrar aos mais pobres o estado lamentável da economia.

A violência e a corrupção haviam chegado a um nível alarmante. O futuro estava ameaçado pelo mais cruel dos impostos, a inflação, que rondava os 30% anuais. Explicou-se que o petróleo não era eterno e que o país caminhava para o desastre.

Capriles defendeu a reunificação da Venezuela, tendo a habilidade de explicar em linguagem bem simples que a "revolução bolivariana" pregada por Chávez inseria-se na cultura do nacional-estatismo comum na América Latina: Estado intervencionista, amplas alianças, apoio das Forças Armadas, credo nacionalista, controle dos meios de comunicação e uma figura carismática para dar sinergia ao processo.

A fórmula estava exaurida e havia fracassado no continente.

Mesmo com o domínio absoluto da mídia tradicional, governo algum consegue controlar a mente das pessoas. Populismo funciona por um tempo, mas não sempre.

Os últimos acontecimentos no Oriente Médio e na África revelam um novo ator que desestabiliza qualquer esquema de força: a internet. Foi assim no Egito. Foi assim na Tunísia. E agora na Venezuela.

A situação do Brasil nada tem a ver com a da Venezuela, mas a equação continua válida. Em um regime democrático, só pode haver alternância de poder quando existe um candidato oposicionista viável e uma proposta de programa de governo que enseje melhores dias para o conjunto da sociedade.


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