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Opinião

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Marcos Gouvêa De Souza

Miopia na demonização do consumo

Investir em infraestrutura é absolutamente necessário, mas isso não deveria pressupor a redução da melhoria do consumo

Grassa na mídia e em ambientes governamentais a ideia de que o estímulo ao consumo já cumpriu seu papel na recuperação econômica do país e que o foco deveria agora ser direcionado para investimentos em infraestrutura.

Como se essas frentes fossem incompatíveis entre si e os recursos para uma inviabilizassem apoio para a outra. Nada mais equivocado e pueril, não fosse incoerente.

O que foi direcionado para o estímulo ao consumo nos últimos anos restringiu-se a alguma forma de desoneração do IPI para certas categorias e produtos e mais algum esforço dirigido para a desoneração da folha de pagamento de alguns segmentos empresariais, que transcendem ao âmbito do consumo.

De fato, o que conspirou a favor do aumento do consumo foi uma conjunção virtuosa do crescimento da renda real das famílias, com melhoria do nível de emprego formal, e do incremento da oferta de crédito e a elevação do nível de confiança do consumidor.

Esses elementos proporcionaram forte expansão das vendas do varejo em todo o país e criaram uma nova realidade social e econômica, sem que o governo fosse obrigado a fazer nenhum estímulo adicional.

No período de 2004 a 2012, vivemos uma profunda transformação estrutural do perfil de consumo. Perto de 40 milhões de brasileiros chegaram ao mercado, que se interiorizou e expandiu, gerando novas demandas por bens e serviços. Esse cenário permitiu o crescimento das vendas de varejo muito acima da evolução do PIB.

O investimento direto do governo para isso acontecer foi mínimo, e foi ele próprio o maior beneficiário. O aumento da arrecadação tributária advinda da formalização de negócios fez com que o crescimento da receita de impostos superasse, por larga margem, a expansão da economia.

Mas, nos últimos meses, tem havido forte pressão no sentido de que a prioridade do governo deveria ser redirecionada para investimentos em infraestrutura. Eles são absolutamente necessários levando-se em conta as carências contatadas no país, mas não deveriam pressupor a redução da atenção à ampliação e à melhoria do consumo.

Há espaço ainda para o aprofundamento do consumo, medido pela carência de produtos e serviços demandados pela população.

A penetração de alguns produtos nos domicílios brasileiros, segundo os dados da PNAD, do IBGE, mostra que, no período de 2001 a 2011, a presença de fogões cresceu de 97,8% para 98,6%. A de TV aumentou de 82,8% para 96,9%. As geladeiras avançaram de 84,4% para 95,8%. Em filtros de água, chegamos, em 2011, apenas a 53,2%, e em freezers a 16,4%. Se pensarmos em máquinas automáticas de lavar roupa, item relevante para a mulher que trabalha fora de casa, a penetração avançou de 32,9% para 50,9%.

E a obsolescência dos eletrodomésticos e dos produtos eletrônicos cria um mercado em constante renovação. O desejo de evolução e melhoria contínua é a essência do capitalismo e alimenta o desenvolvimento econômico, em especial num país como o Brasil, com uma população jovem, com idade média inferior a 30 anos.

Não devemos transigir na atenção que o consumo merece em um momento em que o aumento do emprego formal perde seu vigor, a expansão da renda real é menor, a oferta do crédito está mais limitada pela cautela do sistema financeiro privado e o nível de confiança do consumidor tem baixado desde o primeiro semestre de 2012, criando um indesejável cenário de tendência à contenção de gastos.

O país precisa de crescente atenção com sua debilitada infraestrutura, e qualquer pessoa de bom senso reconhece isso. Porém, fazê-lo à custa de uma redução de atenção e apoio à expansão do consumo é absoluta miopia.


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