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Carlos Heitor Cony

Tortura e torturados

RIO DE JANEIRO - Por motivos profissionais, sou obrigado a acompanhar o noticiário a respei- to dos presos que foram conde- nados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), detendo-me, sobre- tudo nas condições da carceragem, que, todos sabemos, não é das melhores. Os jornais publicam desenhos e croquis das celas, não esquecendo a metragem, que nunca é das maiores.

Nas delegacias para criminosos comuns, o pior castigo é a superpopulação, celas para três ou quatro detentos entupidas com 30 ou 40 prisioneiros, alguns deles sem um julgamento legal. Não é o caso dos mensaleiros. Mas sempre há um acréscimo nas condições da pena.

Dizem que na antiga União Soviética, para crimes menores, o "plus" da tortura era tocar "O Pato", do nosso João Gilberto, no maior volume possível, durante a noite toda.

Não sofri esse castigo. Preso seis vezes durante o regime militar, pouparam-me desse suplício. Aliás, nunca fui torturado. Mas paguei meus pecados.

Na minha cela, no quartel da Polícia Militar, na rua Barão de Mesquita, havia uma lâmpada maravilhosa --que não era a do Aladim, mas do comandante Sizeno Sarmento-- que ficava acesa dia e noite em cima da minha cara. Lâmpada realmente maravilhosa. Enorme, de 150 velas, segundo a opinião do Joel Silveira, um dos meus companheiros de cana. Fazia mais calor do que luz. Nas duas semanas de prisão, nunca apagou.

Mesmo assim, tive minha pena suplementar. Um sargento sergipano, como o Joel, tomou-se de liberdades e trouxe dois originais, um de poesias, outro de contos, queria nossa opinião e, se fosse o caso, uma recomendação para um editor de nossa escolha. Que foi fácil: a gráfica que imprimia o Regulamento Disciplinar do Exército --RDE para os íntimos.


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