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Opinião

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Palco italiano

O desdobramento de grandes escândalos políticos pode ser, sem dúvida, noticiado com estardalhaço --e tem sido comum, sobretudo entre simpatizantes do PT, a tese de que o mensalão deu origem a um exagerado espetáculo midiático.

Na verdade, tudo é menos uma questão de "espetáculo" e mais de "publicidade", no bom sentido que a palavra possui: o da garantia de um controle público sobre os atos e processos do sistema judiciário.

O que se vê com mais frequência, e não apenas no Brasil, talvez seja precisamente a circunstância oposta. Não é que se faça teatro da punição, embora isso também aconteça. Ao contrário, é a impunidade que, de modo deslavado e quase triunfal, expõe-se diariamente ao espanto, e mesmo à admiração, da opinião pública.

Poucos personagens representaram mais claramente a espetacularização da irregularidade, da delinquência política, do escândalo impune do que o ex-premiê italiano Silvio Berlusconi.

Tendo finalmente perdido seu mandato parlamentar, após ter sido condenado pela Suprema Corte italiana, Berlusconi não desperdiçou a ocasião para mais uma cena teatral nesta semana. Classificou sua punição como um golpe contra a democracia, enquanto muitos de seus correligionários envergavam trajes negros de luto.

O delito que lhe valeu a condenação --fraude nos impostos-- é apenas um dentre os que ainda se investigam. O mais rumoroso é seu envolvimento com prostitutas menores de idade.

Embora sua popularidade não seja a mesma, Berlusconi ainda exerce fascínio e influência sobre parte significativa dos italianos.

Se o marketing político se esmera em mostrar os candidatos como cidadãos honestos, bons pais de família e técnicos competentes, é inegável que existe um "antimarketing", por vezes também lucrativo do ponto de vista eleitoral, em torno do político autoritário, indestrutível, cínico e feliz na consecução das piores tramoias e desvios.

Na Itália, e decerto também no Brasil, a admiração provocada por tipos como Berlusconi talvez seja um modo idiossincrático e detestável de fazer um distorcido elogio à "modernidade".

Sociedades marcadas pela hipocrisia e pela culpa parecem esbaldar-se perversamente quando políticos conservadores levantam em triunfo a bandeira do aproveitamento pessoal e do desprezo à lei.

Comemoram seus escândalos do mesmo modo que, do outro lado do espectro político, a corrupção assume ares de heroísmo, idealismo e sacrifício.


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