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Ucrânia na encruzilhada
Seria simplista afirmar que apenas critérios de sobrevivência eleitoral nortearam a decisão do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, de romper tratativas de associação com a União Europeia --o que desencadeou a maior onda de protestos do país nos últimos anos.
Esse fator decerto está presente, embora à primeira vista transpareça certo paradoxo: centenas de milhares de ucranianos pedem a renúncia imediata do presidente e a assinatura de um tratado de livre-comércio com o bloco europeu.
Segundo essa narrativa, Yanukovich teria calculado que a maior proximidade com a União Europeia não lhe traria os votos necessários para a reeleição em 2015; por isso, preferiu a aproximação com Vladimir Putin, chefe de governo da Rússia, de conhecida veia autoritária.
Aspectos econômicos e históricos, no entanto, também precisam ser considerados nessa equação.
Kiev, hoje a principal cidade ucraniana, foi a capital de um grande Estado eslavo oriental entre os séculos 9 e 12 --origem dos atuais países Belarus, Rússia e Ucrânia.
De 1922 a 1991, os ucranianos integraram a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Mantêm, ainda hoje, inevitável ligação com a Rússia: 17% dos habitantes são de origem russa e quase 25% têm o russo como primeiro idioma --caso do próprio Yanukovich.
Após a independência, ratificada por 90% da população, a Ucrânia ficou refém da importação de gás natural e petróleo da Rússia, que lhe cobra altos preços.
Endividada e em recessão, a Ucrânia ainda tem de lidar com valores em queda no mercado mundial de aço, um de seus principais itens de exportação, e com a possibilidade de retaliação da Rússia.
Moscou ameaça aumentar o preço do gás e fechar seu mercado aos ucranianos, que exportam US$ 16 bilhões ao país --segundo maior parceiro da Ucrânia, atrás da União Europeia (US$ 17 bilhões).
Vladimir Putin, em outra chave, também promete cooperação militar, aumento de importação de grãos, auxílio financeiro e compra de títulos da Ucrânia em troca da adesão a uma comunidade econômica de ex-repúblicas soviéticas.
Situação diversa, pois, da Revolução Laranja (2004-2005), quando multidões exigiram novas eleições após denúncias de fraudes cometidas pelo mesmo Viktor Yanukovich, então premiê e candidato à Presidência. Os dilemas de agora são bem mais difíceis e não se esgotam na esfera eleitoral.