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Opinião

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Marcelo Weishaupt Proni

A Copa é um bom negócio para o Brasil?

Bom para quem?

não

O custo total estimado dos investimentos em infraestrutura para a Copa do Mundo de futebol no Brasil ultrapassa R$ 25 bilhões. Desse total, apenas 15% são financiados pela iniciativa privada.

Daí as perguntas: é certo colocar tanto dinheiro público nesse megaevento? Qual o legado econômico para o país? Os benefícios prometidos compensam os esforços e sacrifícios requeridos? Quem se beneficia e quem perde?

Os impactos projetados pelos estudos oficiais são bastante otimistas. Crescimento do PIB (e da arrecadação fiscal), impulso ao turismo internacional, forte geração de empregos e melhoria do transporte urbano são as principais promessas. Embora a maior parte dos benefícios se concentre nas capitais que vão sediar os jogos, muitos ganhos poderiam se difundir para outras regiões.

Porém, há evidências de que a Copa não vai deixar o legado inicialmente esperado. As metodologias usadas para projetar os potenciais impactos econômicos se baseiam em suposições que dificilmente se cumpririam. Exemplo: as estimativas de geração de empregos diretos e indiretos não consideram o crescimento da produtividade do trabalho e a possibilidade de as empresas aumentarem a produção e os serviços sem aumento correspondente de funcionários.

Mas, a principal frustração se refere à participação da iniciativa privada na execução de projetos de infraestrutura, especialmente no caso das novas arenas multiuso.

É importante considerar que o aprofundamento da crise internacional causou uma mudança significativa do cenário e da análise de tendências. Desde 2011, a desaceleração do crescimento econômico do país provocou uma retração do investimento privado. E isso restringiu a ampliação da capacidade hoteleira nacional. Além disso, outros fatores atrasaram a modernização dos portos e aeroportos.

A origem do financiamento é crucial, uma vez que os impactos econômicos de um megaevento são mais positivos quando o setor privado é mobilizado e responde ativamente.

Se o Estado assume um papel central na alocação de recursos, como é o caso da Copa no Brasil, é importante que isso não provoque uma redução do gasto público em outras áreas. Pois, de acordo com a literatura internacional especializada no assunto, o dinheiro público produz resultados econômicos melhores, por exemplo, quando investido na construção de um novo hospital em vez de uma arena esportiva.

É bom esclarecer que o investimento total em infraestrutura na preparação para a Copa equivale a cerca de 5% do valor dos investimentos do PAC, ao passo que os empréstimos do BNDES concedidos para a construção e reforma das arenas corresponde a menos de 3% do montante que essa instituição financeira empresta anualmente.

Isto é, a Copa não é excessivamente cara para uma economia do porte da nossa. Contudo, no caso de algumas sedes, o endividamento da prefeitura ou do governo estadual pode representar um ônus expressivo, que comprometerá a realização futura de outros projetos.

Não há dúvida de que a Copa é muito lucrativa para a Fifa e um ótimo negócio para grandes construtoras. Também é provável que contribua para impulsionar a economia do turismo no país. E melhorias na mobilidade urbana vão beneficiar as populações das cidades que vão sediar o megaevento.

Por outro lado, a Copa também pode causar prejuízos. Por exemplo, o modelo de parceria público-privado adotado para viabilizar a construção ou reforma dos elefantes brancos estabelece prazos muito dilatados para as concessões e contrapartidas anuais muito elevadas, que serão pagas, em boa medida, por segmentos da população que nunca terão oportunidade de conhecer tais arenas.

Como acontece sempre que se trata de alocar dinheiro público, alguns segmentos econômicos e sociais serão favorecidos em detrimento de outros.

Se a seleção brasileira vencer o torneio pela sexta vez, todo o esforço terá sido válido?


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