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Igor Gielow

O espelho da Copa

BRASÍLIA - A Copa do Mundo de 2014 é uma espécie de hidra. Há a cabeça do espetáculo do esporte, a do irracionalismo nacionalista, a da surpresa positiva dentro e fora dos estádios, a da ameaça de fiasco organizacional, a do legado incerto, aquela que pode instigar novos protestos nas ruas, e por aí vai.

Só saberemos de fato qual face se mostrará mais radiante no ano que vem. Mas o sorteio dos grupos da Copa, anteontem, iluminou um aspecto: a dificuldade do Brasil em lidar com sua própria imagem.

O melhor exemplo vem de Manaus. Antes do sorteio, o técnico da Inglaterra praguejou da hipótese de jogar em um lugar quente e úmido --para não falar nos bichos perigosos que transmitem perebas insondáveis, como lembrou a imprensa britânica (não sem razão).

Qual foi a resposta brasileira à esportivamente correta preocupação? O prefeito manauara, Arthur Virgílio (PSDB), disse, com sua habitual "finesse" de lutador de jiu-jítsu, que os ingleses não seriam bem-vindos.

Poderia ter falado sobre as maravilhas amazônicas para turistas em potencial, mas preferiu amarrar o nome de Roy Hodgson na boca de um sapo e jogar o batráquio num igarapé.

Só deu meio certo: a Inglaterra caiu no "grupo da morte", mas pegará a Itália em... Manaus. Depois, Virgílio tentou consertar, mas era tarde.

O episódio é prosaico, mas revelador da ciclotimia de um país isolado historicamente. Ora somos vira-latas, ora enchemos o peito de orgulho para desafiar o mundo; a política externa da era Lula é um exemplo acabado de como isso pode ser pernicioso na prática.

A Copa, evento globalizante como poucos, poderia dar a oportunidade de uma interação com esse "outro" estrangeiro, por mais estúpido que ele possa parecer ou ser. Ao Brasil, ainda que alguns estereótipos certamente serão reforçados, fica a chance de limar outros. Mas não será com macumba que isso vai acontecer.


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