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Opinião

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Argentina saqueada

Foi evidente o descompasso: na capital, a presidente Cristina Kirchner comandava uma celebração pelos 30 anos de democracia; em quase todas as outras províncias da Argentina, ocorriam saques e atos violentos enquanto policiais, em greve, cruzavam os braços.

O problema começou no dia 3, em Córdoba, segunda maior cidade do país, quando a polícia provincial se aquartelou, reivindicando melhores salários. Sem vigilância, ao menos mil estabelecimentos locais foram roubados. O governador José Manuel de la Sota, acuado, aumentou a remuneração dos agentes de segurança em 33%.

A tática logo se espalhou para 20 das 23 províncias argentinas. Pelo menos 11 pessoas morreram.

A exemplo de outras categorias de funcionários públicos, os policiais reclamam reajuste salarial de acordo com a inflação real, em torno de 25% ao ano, segundo consultorias independentes --bem acima, de todo modo, dos 10% apontados pelo desacreditado cálculo oficial.

Dispostos a agir com tamanha irresponsabilidade, os policiais se beneficiam de maior poder de barganha --na verdade, uma extorsão, como disse Cristina. Em pesquisas de opinião, há anos a deterioração contínua da segurança pública lidera a lista de preocupações dos argentinos.

Agravou a situação o fato de a resposta à crise ter sido partidarizada. Em Córdoba, a polícia federal argentina só entrou em ação no terceiro dia de saques e após o fim de intensa troca de acusações entre o governador e a presidente, adversários políticos.

Não se conhece, por ora, o impacto dos reajustes salariais nos cofres estaduais. Sabe-se, no entanto, que os governadores terminaram cedendo em um momento já difícil para as contas públicas argentinas. Somente nos dez primeiros meses deste ano, o deficit fiscal do país aumentou 46%.

No curto prazo, o risco é que as pressões por aumento salarial se espalhem, o que forçaria as províncias a pedir ajuda ao governo federal. Com as portas do financiamento externo praticamente fechadas desde o calote na dívida externa, em 2001, a Casa Rosada pode encontrar saída na impressão de dinheiro, alimentando a inflação.

O clima ruim para celebrar três décadas do fim da ditadura não deixa de ser um alerta. Forças policiais com sentido de responsabilidade, transparência na administração pública, convívio entre diversas tendências políticas e respeito às leis são essenciais a uma sociedade democrática.


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