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Hélio Schwartsman

Um lugar para Mandela

SÃO PAULO - Nelson Mandela é o que há de mais próximo a um herói que consigo imaginar. Mas será que heróis existem de verdade? A questão é capciosa. O problema com o heroísmo e seu análogo religioso, a santidade, é que eles sempre podem ser reduzidos a uma causa egoísta.

No martírio religioso, os termos da barganha são evidentes. O sujeito troca a penosa existência terrena pelo que acredita ser uma vida eterna repleta de prazeres. Mesmo no mundo real, que não inclui um paraíso, o heroísmo pode conceder algum tipo de vida "post mortem", já que o autor de grandes façanhas acaba conquistando uma vaga nos livros de história e na memória coletiva. Morrer por uma causa seria, assim, o triunfo do orgulho sobre a medíocre segurança.

O interessante é que o espectro do egoísmo sobrevive mesmo quando excluímos por completo a posteridade individual e recorremos apenas a explicações naturalistas. Como as sociedades recompensam aqueles que demonstram coragem, correr riscos calculados passa a ser uma estratégia para conquistar parceiros sexuais e deixar uma prole maior. Se isso não basta para banir o heroísmo, é o suficiente para torná-lo suspeito.

No limite, até o autossacrifício pode ser válido, desde que com o intuito de assegurar a sobrevivência de dois irmãos ou oito primos, para reproduzir o chiste de J.B.S. Haldane.

Obviamente, não fazemos essas contas de parentesco genético antes de pular no rio para salvar alguém. O bonito da evolução é que ela faz todos os cálculos por nós e os inscreve na natureza na forma de instintos, impulsos ou simples preferências.

É justamente aí que encontramos espaço para salvar, se não a ideia clássica do herói, ao menos sua dimensão funcional. O fato de quase todas as sociedades reverenciarem heróis em narrativas é um bom indicativo de que o conceito deve ter utilidade. E, se ele é um pouco mais do que uma ilusão, já encontramos um bom lugar para colocar Mandela.


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