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Ruy Castro

Exclusivos das lápides

RIO DE JANEIRO - Está em cartaz no Rio um musical sobre o cantor Cazuza, que, na vida real, se chamava Agenor. Nos muitos artigos que se têm escrito sobre Vinicius de Moraes, cujo centenário comemoramos, informa-se que seu pai se chamava Clodoaldo. E o avô de Tom Jobim se chamava Azor --do hebraico, "aquele que socorre". Agenor, Clodoaldo, Azor --quantos jovens se chamam assim no Brasil?

Haverá neste momento algum menino brasileiro que atenda por Ataliba, Asdrúbal, Anacleto, Alarico ou Astolfo? Alguma menina que seja Ema, Jurema ou Zilá? E as com nomes de flores --Dália, Gardênia, Magnólia, Malva, Violeta? Por que já não se veem tantas garotas com os lindos nomes de Elvira, Neide, Eneida, Nilce ou Neísa? E que fim levaram as Iaras, Iones e Iedas?

Reconheço que alguns nomes são problemáticos --não deve ser mole chamar-se Agapito, Libório, Simplício, Pancrácio ou Tibúrcio. Para não falar em Filomena, Hilária, Genoveva, Hermengarda ou Hermenegilda. Mas por que a escassez, entre as crianças, de nomes sólidos e tradicionais como Valdemar, Eustáquio, Ernâni, Teobaldo ou Nestor? E, em nosso tempo, os Leonardos abundam --mas os Leopoldos são raros e os Leocádios devem estar extintos.

Nomes de ampla circulação no Brasil do século 20 --seus portadores eram famosos-- foram abandonados: Juscelino, Graciliano, Lupicínio, Olegário, Gregório. Ou Esperidião, Epitácio, Odorico, Laudelino, Zózimo. Um pai movido pela admiração poderia batizar seu filho com um deles, mas não vejo isso acontecendo.

Alguém me disse que, um dia, certos nomes, por mais respeitáveis, só seriam encontrados em cemitérios. E exemplificava com Custódio, Filinto, Nicácio, Orígenes, Nicodemus, Zulmira --sem esquecer, com alguma maldade, que o meu próprio nome, Ruy, também ameaçava ficar exclusivo das lápides.


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