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Ruy Castro

Quem morre por último

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

RIO DE JANEIRO - Joan Fontaine, antiga estrela do cinema, morreu no último domingo. Fez grandes filmes, sendo "Rebecca, a Mulher Inesquecível" (1940), de Hitchcock, o mais famoso, e "Carta de uma Desconhecida" (1948), de Max Ophuls, o melhor. Eu gostava dela. Gostava também de sua irmã, a idem estrelíssima Olivia de Havilland. E só então me dei conta de que nunca tomara partido na rixa entre as duas.

Rixa? O mundo não conheceu irmãs que se odiaram tanto e por tanto tempo --quase um século, porque Joan morreu aos 96 anos, Olivia está viva aos 97, e esse ódio começou na infância. Suas brigas, ainda de maria-chiquinha, terminavam no pronto-socorro. Joan detestava Olivia, por esta ser a mais velha, e Olivia esnobava Joan, por esta ser a caçula. Joan decidiu que esmagaria Olivia fazendo tudo primeiro. E começou bem: foi a primeira a perder a virgindade e a se casar.

Um dia, elas se viram em Hollywood e disputando os mesmos papéis, namorados e Oscars. Olivia fez os clássicos "Capitão Blood" (1935), "As Aventuras de Robin Hood" (1938) e o segundo papel feminino em "...E o Vento Levou" (1939). Mas foi Joan quem ganhou o Oscar, com "Suspeita" (1941), também de Hitchcock. Olivia teve de esperar oito anos pelo seu próprio Oscar, com "Tarde Demais" (1949), de William Wyler, embora já merecesse tê-lo levado por "A Cova da Serpente" (1948), de Anatole Litvak.

No ocaso de suas carreiras, ambas interpretaram papéis ousados. Em "Ilha nos Trópicos" (1957), Joan tinha um caso interracial com o belo Harry Belafonte, e quase foi linchada por isso. E, no inacreditável "O Mundo dos Aventureiros" (1969), de Lewis Gilbert, Olivia, aos 53 anos, fez, pode crer, uma cena de seios nus.

Está bem, Joan fez tudo primeiro. Inclusive morrer. Mas Olivia era melhor pessoa e, como sói acontecer, ri melhor quem morre por último.


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