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Opinião

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Miragem egípcia

Três anos atrás, havia boas razões para crer que o fruto da Primavera Árabe seria um pouco de democracia pelo Oriente Médio.

Tendo começado em dezembro de 2010 na Tunísia, onde o ditador Zine El Abidine Ben Ali foi deposto no mês seguinte, a onda de levantes espalhou-se da Mauritânia ao Omã, com resultados variados.

Deu-se no Egito o mais importante deles. Em 2011, manifestantes derrubaram o regime militar liderado por Hosni Mubarak, no poder havia três décadas. No ano seguinte, os egípcios elegeram um presidente, em seu primeiro pleito de fato democrático em mais de cinco milênios de história.

Os ditadores da Líbia e do Iêmen também caíram, e outros dirigentes viram-se obrigados a promover reformas com graus diversos de sinceridade e alcance.

O tempo, contudo, não se encarregou de fazer germinar a semente lançada há três anos.

Verdade que, na Tunísia, a transição está em curso, ainda que envolta em dificuldades de todo tipo. Mas a situação segue entre confusa e caótica na Líbia e no Iêmen. Na Síria, a revolta deu lugar a uma violenta guerra civil que já matou mais de 120 mil pessoas.

E, no Egito, o mais populoso e influente dos países árabes, a democracia revelou-se uma miragem. Mohammed Mursi, eleito presidente pelo voto popular e direto, foi deposto num golpe militar em julho passado, pouco mais de um ano depois de assumir o cargo.

Ainda pior, no final de 2013 o governo interino do Egito declarou formalmente que a Irmandade Muçulmana --a que pertence Mursi-- passaria a ser considerada uma organização terrorista. Ficaram proibidas suas manifestações públicas, e seus líderes vêm sendo encarcerados.

À vontade no poder, os militares já não se preocupam em manter um discurso pró-democracia nem temem criminalizar uma organização que não só é a maior força de oposição do país, mas também representa a preferência da maioria da população.

A involução tende a ser duradoura. A chave para uma transição democrática no Egito repousava num frágil equilíbrio entre militares --que movimentam pelo menos 25% do PIB-- e grupos religiosos --cuja popularidade decorre em parte do sistema paralelo de promoção social que desenvolveram.

O acordo entre as duas forças foi rompido de forma violenta. Não será surpresa se a resposta de grupos apartados da arena política, como a Irmandade Muçulmana, incluir ações radicais, com efeitos dramáticos sobre todo o mundo árabe.


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