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Opinião

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Bufão canadense

Com a retirada de Silvio Berlusconi da cena política, parecia estar vago o lugar dos políticos bizarros no noticiário internacional.

Passado o misto de consternação e riso que despertavam as noites de "bunga bunga" do ex-premiê italiano, eis que rapidamente surge outra figura pródiga em ultrajes, e com bons índices de popularidade, nas plagas desenvolvidas e educadas do hemisfério Norte.

Rob Ford, o prefeito de Toronto, ocupa com seus quase 120 quilos o posto vacante. Em maio de 2013, o governante da maior cidade canadense foi flagrado fumando crack.

Durante meses, incidiu no vício comum a políticos surpreendidos em alguma ação condenável: negou o fato. A polícia tinha cópia do vídeo, contudo, e Ford acabou admitindo o que fizera.

Indo além do ex-presidente americano Bill Clinton --célebre por sustentar ter fumado maconha sem tragar--, Ford admitiu o consumo da droga, mas não a dependência química. Teria sido um deslize cometido, segundo afirmou, "numa das minhas situações de estupor alcoólico". As quais, pelo que se comenta, seriam frequentes o bastante para impor reservas à presença de Ford na prefeitura de Toronto.

Algum outro tipo de estupor ou intoxicação toma conta, entretanto, de boa parte dos 2,8 milhões de habitantes da cidade. Pesquisas detectam consideráveis chances de Ford ser reconduzido ao cargo.

Para 40% dos eleitores de Toronto, seu desempenho na prefeitura merece aprovação. Tendo gasto US$ 400 mil para remover da cidade ciclovias cuja instalação custara cerca de 15% dessa quantia, Ford parece ser daquelas figuras públicas que representam uma válvula de escape contra as pressões do politicamente correto.

Numa bebedeira, fez ameaças de morte; investiu fisicamente contra manifestantes; recusou-se a participar da Parada Gay da cidade; teria proferido insultos racistas a um motorista de táxi; refutando a acusação sobre suposta traição, disse que tinha "mais que o suficiente para comer em casa".

A grosseria e o descontrole de Rob Ford --além de seus protocolares pedidos de perdão-- talvez atraiam, por romper o tédio e fugir a não poucas hipocrisias, os descontentes com a civilização.

Esta cobra, como se sabe desde Freud, um preço em impulsos reprimidos sobre o ser humano; por outro lado, a espetacularização do poder político (com tantos sorrisos pasteurizados e frases inócuas) comportaria seu contraponto de bufões e trogloditas. É o vandalismo de cúpula, respondendo ao vandalismo das sarjetas.


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