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Carlos Heitor Cony

O barco verde

RIO DE JANEIRO - Acabo de ler os originais do novo romance de Heloisa Seixas, que deverá ser lançado nos primeiros meses deste ano. Evidente que escreverei sobre ele, como escrevi quando ela estreou em livro com "Pente de Vênus". Acontece que o novo romance me causou um impacto que não sentia há muito. O fato de ser bem escrito e usar uma técnica surpreendente (não me lembro de ter lido um livro de ficção com a mesma construção revolucionária) seria bastante para colocá-lo na estante mais nobre da nossa literatura.

Teria de destacar muitas passagens de uma história que começa como um diário pessoal e logo se transforma numa biografia emocionante, independente de ser ou não ser autorizada, clima e problemas do nosso tempo, um drama real que Shakespeare colocaria entre "os mil acidentes da carne".

Há uma pequena passagem que é conhecida por muitos mas para mim foi um soco não na alma (que eu não tenho) mas nas vísceras obscenas de ateu assumido e, pelo menos nesse departamento, ple- namente realizado.

O livro tem título inspirado num dos clássicos filmes de Bergman: "O Sétimo Selo", o homem devastado que encontra a Morte numa praia deserta e joga com ela uma partida de xadrez. Se perder, será levado por ela para a sombra final. O personagem de Heloisa nem tem a possibilidade de ganhar a partida, mas joga assim mesmo, enfrentando os xeques-mate do fantasma que sempre nos vence.

Em dado momento, o personagem está numa clínica de recuperação e ouve um pastor perguntar se alguém na plateia não crê em Deus. Ele levanta a mão: não crê nem gosta de Deus. O pastor propõe uma situação limite: você está se afogando num oceano profundo e distante. Aparece um barco verde, mas você não gosta do verde e recusa a salvação.


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