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Stephan Schwartzman

Vinte e cinco anos depois

O legado de Chico Mendes pode dar ao Brasil o capital político e moral para liderar a negociação mundial de um novo acordo sobre o clima

Há 25 anos, quando meu amigo e colega Chico Mendes foi assassinado, eu temi que tudo por que ele havia lutado estivesse perdido. Não poderia ter me enganado mais.

Nas duas viagens que organizei para ele aos Estados Unidos, eu o vi apresentar poderosos argumentos diante de ONGs e autoridades em defesa de ideias que pareciam absurdamente idealistas, se não revolucionárias. Chico afirmava que a boa governança e a proteção à floresta não eram obstáculos, mas precondições ao desenvolvimento da Amazônia. Hoje, essa abordagem é vista simplesmente como pragmática.

Admiro o brilhantismo político e a presciência de Chico. Ele compreendeu antes que a maioria que qualquer estratégia para a preservação da Amazônia teria de ser também uma estratégia de desenvolvimento. Essa foi a gênese da reserva extrativa, que pode ser resumida como um esforço para fazer com que a floresta valha mais viva do que morta, sobretudo para quem vive nela.

Chico deixou um legado importante. O Plano de Prevenção e Controle de Desmatamento lançado pela grande amiga e companheira de luta de Chico Marina Silva é em larga medida responsável pela redução de 75% no desflorestamento conquistado de 2005 para cá. O plano reduziu em 2,9 bilhões de toneladas a poluição por dióxido de carbono, enquanto a produção agrícola se expandiu. Foi um grande benefício para o Brasil e para o mundo.

Enquanto governos fazem pose e se engalfinham nas negociações da ONU quanto ao controle do clima, cerca de 50 nações já adotaram sistemas de mercado ou de impostos sobre as emissões de carbono, para um total de mais de 20% das liberações mundiais. Grandes empresas incorporaram pagamentos por emissões aos seus planos de negócios e outras, como a Coca-Cola e a Unilever, assumiram compromissos de desflorestamento zero para as commodities agrícolas que consomem.

As vantagens comparativas do Brasil como potência da economia ecológica do século 21 são evidentes: etanol da cana-de-açúcar com baixa emissão de carbono, potencial de energia solar e eólica, um setor de plantação florestal de alta tecnologia e um ambicioso programa de agricultura de baixa emissão.

E o legado de Chico, a liderança mundial na área, pode dar ao Brasil capital político e moral para liderar a negociação de um novo acordo internacional sobre o clima, alavancar o desenvolvimento de mercados robustos de licenças para emissão de carbono (incluindo o nacional), continuar a produzir mais comida usando cada vez menos terra e conferir valor real às florestas vivas.

Aproveitar essa oportunidade requer políticas coerentes. Será improvável que o ritmo do desmatamento continue a cair se o governo não criar incentivos ou fizer vista grossa enquanto a bancada ruralista aprova emendas que solapam terras indígenas e áreas protegidas. Subsidiar usinas ineficientes e ecologicamente destrutivas como Belo Monte não é o tipo de investimento que fará do Brasil uma superpotência ecológica.

A principal percepção de Chico foi a de que a boa governança é uma precondição para o desenvolvimento, e não algo que possa ser abandonado em troca dele. Essa ideia deveria apontar o caminho do futuro para o Brasil como líder mundial eco-econômico do século 21.


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