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Fábio Zanini

A nova Paulista

SÃO PAULO - Fui muitas vezes a Johannesburgo, na África do Sul, uma cidade viciada em shopping centers. São enormes, com escritórios, restaurantes e boates acoplados, onde o sujeito trabalha, come, diverte-se e até demonstra seu patriotismo. Na recente morte de Nelson Mandela, uma das maiores concentrações de buquês de flores formou-se aos pés de uma estátua dele no principal shopping da cidade.

Johannesburgo é uma cidade degradada, assim como São Paulo, outra que gosta muito de shoppings, embora não seja tão obcecada por eles como a metrópole sul-africana.

Quando as ruas e praças são feias e perigosas, são substituídas por esses locais fechados, onde há ao menos uma sensação de conforto e segurança. Não por acaso, supershoppings são raros na Europa.

Shoppings quebram as barreiras do que é público e privado. São ao mesmo tempo as duas coisas. Vem daí a dificuldade de lidar com os "rolezinhos", essa nova maneira de protestar de jovens que ontem descambou para seu primeiro episódio de violência, em Itaquera.

Estará procurando encrenca o dono de um desses estabelecimentos que tentar blindar a entrada com base no direito à propriedade privada. A lei pode até ampará-lo, mas a realidade, não. É impossível isolar espaços que hoje são parte da vida da cidade.

A foto de um PM tentando dar um golpe de cassetete num jovem, na capa da Folha de ontem, traz lembrança imediata de outra bem parecida, da edição de 14 de junho do ano passado, em que um policial desce borrachada num casal na avenida Paulista.

Naquele momento, a imagem agressiva ajudou a dar gás aos protestos de junho. O mesmo pode acontecer agora. Para a turma dos "rolezinhos", os shoppings são a nova Paulista.

Pelo menos na avenida, após anos de manifestações, as autoridades sabem um pouco o que esperar. Desta vez, ninguém tem ideia de como agir.


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