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Opinião

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Empurrão sutil

É curioso que venha de políticos britânicos tradicionalmente avessos à intervenção do Estado --os conservadores do primeiro-ministro David Cameron-- os sinais de entusiasmo pela estratégia conhecida como "nudge", ou "empurrãozinho".

O sistema, popularizado pelos teóricos americanos Richard Thaler e Cass Sunstein, atraiu interesse na primeira campanha presidencial de Barack Obama, que supostamente estaria disposto a aplicá-lo em sua administração.

A experiência não prosperou nos EUA; todavia, segundo o jornal "The New York Times", o governo do Reino Unido se encarrega de criar um grupo chamado, algo obscuramente, "Equipe de Percepções Comportamentais", para gerar "empurrõezinhos" em áreas do cotidiano de seus cidadãos.

Exemplo típico desse procedimento é o de colocar, nos refeitórios escolares, maçãs e outros alimentos saudáveis bem à vista das crianças, tornando de mais difícil acesso as guloseimas cujo consumo se quer dissuadir.

Talvez com menos solércia, o governo britânico obteve sucesso, por fim, no seu antigo objetivo de convencer as pessoas a calafetar o sótão de suas casas. Frestas no revestimento implicavam maior consumo de combustível para aquecimento residencial. Estímulos tradicionais, como desconto nos impostos, não eram suficientes para alcançar o pretendido.

Faltava o "empurrãozinho". Descobriu-se que o principal motivo para os ingleses não se dedicarem à tarefa era sua indisposição para livrar-se de todas as bugigangas e velharias acumuladas no aposento. Prontificando-se a recolhê-las, o governo ajudou os cidadãos a fazerem o que queria que fizessem.

Num mundo historicamente habituado a formas brutais de coerção e, posteriormente, ao explícito bombardeio publicitário, sistemas de inédita sutileza na administração das almas e das vontades podem despertar sorrisos de simpatia e elogios à eficiência elegante de que parecem revestidos.

Mesmo a publicidade tende, contudo, a não esconder seus propósitos do público a que se destina. Há algo de mais preocupante em técnicas tão sutis que passem despercebidas das pessoas cujo comportamento se quer dirigir.

Não por acaso, metas benfazejas como o consumo de maçãs são mencionadas quando se quer exemplificar a virtude do método. Resta saber se, nas mãos de um governante ou de uma corporação, essa inteligente feitiçaria psicológica não é capaz de inocular alguns venenos também.


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