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Opinião

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Carlos Heitor Cony

Mania de perseguição

RIO DE JANEIRO - De uns tempos para cá ocorre comigo um fato curioso: encontrar amigos ou conhecidos nas mais disparatadas ocasiões e nos mais inusitados lugares. Como que um Frestão me acompanha os passos, transformando carregadores de aeroportos em ministros de Estado, motoristas em poetas, camelôs em colunistas sociais.

Isso vem de repente. E dou de cara, por exemplo, com o Ferreira Gullar, descabelado e magro como o próprio, vendendo boletos de metrô em Buenos Aires. Aliás, em recente estada na capital argentina, tive um infindável e divertido desfile de amigos ou conhecidos que me acompanhavam pelas calles e me aliviavam a solidão.

Vi Ruy Castro passar de moto pela avenida de Maio; vi José Wilker fazendo empanadas numa empanaderia de Lavalle. Paulo Coelho era um cidadão calmo na fila de ônibus de Corrientes e Marcos Vinicios Vilaça tocava bandoneon numa orquestra de "moços cantores" da calle Maipu.

Dei de cara com Angeli de cicerone com Ziraldo. Era uma gentil mistura de Genoino, Maluf e Joaquim Barbosa. O Silvio Santos vendia fiambres na esquina de Tucumã com San Martin.

Vi o mestre Evanildo Bechara metido numa farda de suboficial da impávida guarda bonaerense, com apito, revólver, botas, esporas.

-- Mestre, o que faz aqui com este uniforme?

O mestre ordenou: "Circule, señor, circule!"

Quis abraçá-lo, ele meteu o apito na boca. Apareceram soldados. Pedi desculpas num dialeto em que entraram os poucos e mal sabidos idiomas que conheço e, antes que o negócio engrossasse, entrei num teatro.

Ao olhar para o palco, estanco lívido: no tablado fazendo um barulho infernal com os tacões dos sapatos, quebrando castanholas com os braços em arco, de costeletas fatais, olhar duro de quem enfrenta um touro --o nosso recente cardeal Tempesta dançava um fandango!


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