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Opinião

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Gastão Vieira

TENDÊNCIAS/DEBATES

As razões do deficit

É preciso que o empresariado resista à tentação de elevar preços. Senão, o turista não voltará, e o rombo nas contas externas não deixará de crescer

O verão chegou, e tão inevitáveis quanto as notícias sobre a chuva são os dramáticos balanços de começo de ano sobre as contas externas.

O gasto dos brasileiros no exterior bateu mais um recorde em 2013, e nosso deficit na balança do turismo fechou o ano em US$ 18,6 bilhões, contra US$ 15,6 bilhões em 2012 e apenas US$ 5,6 bilhões em 2009.

Os números são reais e preocupantes, tendo em vista que o turismo responde por um quinto do desequilíbrio na balança de pagamentos nacional. Mas há muita mistificação em torno deles.

O deficit acumulado no turismo tem causas próximas e últimas. As principais causas próximas podem ser facilmente percebidas por quem olhar a série histórica da balança: US$ 3,2 bilhões em 2007, US$ 5,2 bilhões em 2008, US$ 5,6 bilhões em 2009 e US$ 10,5 bilhões em 2010.

Não é preciso ser economista para concluir que a duplicação de um ano para o outro se deveu principalmente ao cataclismo financeiro que atingiu a Europa e os Estados Unidos no fim de 2008. Com a crise, os ricos do mundo reduziram suas viagens. Os brasileiros, com mais renda e crédito fácil, fizeram o movimento contrário.

Outro elemento de desequilíbrio é o câmbio. Em 2004, com o dólar a R$ 2,92, nossa balança de pagamentos teve um superavit de US$ 351 milhões. Muitos brasileiros desistiram do exterior e o Brasil ficou barato para os estrangeiros. O número de americanos que vieram ao Brasil naquele ano chegou a 706 mil, contra 586 mil em 2012, com o dólar a R$ 1,91. Brasileiros, por outro lado, inundaram os EUA no ano retrasado. Devem continuar a fazê-lo neste ano, movidos pela inércia e por um fator irresistível: os preços de bens de consumo nos EUA.

Note-se que, mesmo diante de um cenário cambial desfavorável, o setor de turismo cresceu quatro vezes mais que o PIB do Brasil em 2012 e duas vezes mais em 2013. Cabe lembrar, também, que o nosso deficit é artificialmente inflado pelo fato de as compras feitas no exterior com cartão de crédito serem contabilizadas como operações de turismo, mesmo quando a despesa é feita no Brasil. O Ministério do Turismo tem cobrado do Banco Central a desagregação dessa conta.

Entre as causas últimas do deficit está algo que não podemos mudar: nossos principais visitantes são nossos vizinhos. E os vizinhos do Brasil têm limitações estruturais e de momento (vide Argentina) no potencial de gastos no exterior. O Brasil é, além de tudo, isolado geograficamente, pouco conectado aos grandes países emissores de turistas.

O Ministério do Turismo tem feito esforços para conter o deficit, em várias frentes. Uma delas é estimular o brasileiro a viajar mais pelo Brasil. Estamos fazendo isso com a retomada dos programas de incentivo a viagens em baixa temporada e com um esforço de marketing do destino Brasil para os brasileiros.

Estamos melhorando os parques como alternativas ao turismo de sol e praia. E o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do turismo está tornando nossas cidades históricas mais amigáveis ao visitante.

Para que o brasileiro decida ficar em vez de ir para Miami, porém, é preciso tornar os destinos nacionais tão desejáveis quanto os do exterior. Belezas naturais nós temos em quantidade para competir pelos corações e mentes dos nossos patrícios. Mas, infelizmente, o que nos sobra em potencial falta-nos em competitividade, em especial nos preços e na qualidade dos serviços.

O aumento da exposição internacional do Brasil com a Copa poderá ser a chave para mudar esse quadro, treinar recursos humanos e liberar o potencial turístico nacional.

Uma política agressiva de promoção interna e externa será necessária, mas é também preciso que o nosso empresariado resista de todas as formas à tentação de elevar preços para ganhar fácil no curto prazo. Se não tiver uma experiência memorável, o turista não voltará. E nosso rombo nas contas externas não deixará de crescer.


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