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Ruy Castro

Esperando o Supremo

RIO DE JANEIRO - De 1940 a 1970, todos os atores, produtores e até os chefes dos estúdios de Hollywood comeram na mão de um advogado chamado Greg Bautzer. Era Bautzer quem os defendia, aconselhava, advertia e tirava de encrencas. Desde a venda de um estúdio quebrado até a compra do silêncio de alguém, tudo passava por ele.

Bautzer defendeu a atriz Marion Davies, amante secular do magnata da imprensa William Randolph Hearst, o "Cidadão Kane" real, contra os herdeiros deste, que não se conformavam com que Hearst tivesse deixado seu império para Marion. Pois Bautzer ganhou. Defendeu Nancy Sinatra no divórcio pedido por seu marido Frank, e não apenas tirou as calças de Sinatra em benefício de Nancy como ficou amigo dele. E, acima de tudo, Bautzer foi advogado de Howard Hughes, então o homem mais rico do mundo.

Nos anos 60, sua principal tarefa para o recluso e paranóico Hughes foi tentar sustar biografias sobre ele, produzidas por editoras como a Time-Life, a Random House, a McGraw Hill e outras do mesmo porte. Bautzer começava por escrever-lhes cartas amigáveis, oferecendo a "colaboração" de Hughes se este tivesse acesso aos originais. Quando sua indecente proposta era ignorada, ele ameaçava com processos. Mas só ouvia risos do outro lado.

As ditas biografias foram publicadas e nos permitiram aprender sobre um dos homens mais importantes do século 20, pioneiro do petróleo, do cinema e da aviação. Nem o astuto Bautzer, nem o bilionário Hughes conseguiram dobrar a liberdade de expressão nos EUA. Lá, o sistema funciona e se defende por si.

No Brasil, o sistema é frágil, as editoras têm medo e um cantor de rádio nos reduz à menoridade. E, com a "polêmica das biografias" adormecida, fala-se na vitória dos neocensores. A cultura não vê a hora de o STF nos tornar adultos e responsáveis.


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