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Segunda chance
Cassação de mandato do deputado presidiário Natan Donadon precisa ser o início de programa de redução de danos à imagem da Câmara
Natan Donadon (ex-PMDB-RO), personagem central de um dos maiores vexames da Câmara dos Deputados, deve voltar a ser julgado por seus pares em sessão marcada para hoje à noite.
Tudo o mais sugere que, desta feita, o deputado presidiário não conseguirá preservar seu cargo, muito embora o novo processo a ser analisado pelo plenário seja, a rigor, menos grave do que o apreciado em agosto passado.
Naquela ocasião, a cassação era dada como certa. Também pudera: condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de 13 anos de detenção por desvio de R$ 8,4 milhões dos cofres públicos e formação de quadrilha, Donadon havia se convertido no primeiro deputado preso no exercício do mandato desde o fim da ditadura militar.
Deu-se o impensável, contudo. Com o voto explícito ou a abstenção hipócrita, mais da metade da Câmara quis absolver o colega encarcerado no presídio da Papuda, em Brasília, como se o comportamento criminoso e a atividade parlamentar não fossem excludentes.
Diante do evidente prejuízo à imagem da Casa, o PSB protocolou, ainda no ano passado, nova representação contra Donadon.
A peça entregue ao Conselho de Ética defendia a perda do mandato por razões comparativamente mais comezinhas. O deputado teria quebrado o decoro parlamentar ao votar contra a própria cassação --o que o regimento proíbe-- e sair da Câmara algemado.
Trata-se, é claro, de mero pretexto. Relator do pedido, o deputado José Carlos Araújo (PSD-BA) afirmou: "O Parlamento está com uma ferida aberta, que necessita ser urgentemente tratada para estancar a sangria de credibilidade".
Isso não ocorrerá de imediato. O mandato de Donadon será cassado (salvo nova e vergonhosa surpresa) não porque os deputados enfim compreenderam seu papel na sociedade, mas porque a votação não será secreta --graças a uma mudança constitucional aprovada no final de 2013.
Será a transparência, e não a ética, que guiará os parlamentares; é a pressão da opinião pública, e não o senso de responsabilidade, que presidirá o sufrágio aberto.
Já é um começo, sem dúvida, mas ainda é pouco. Aquela mácula não será eliminada nem esquecida, e sua lembrança será fortalecida a cada voto que Natan Donadon obtiver a seu favor.
Se de fato pretendem melhorar a imagem da Câmara, os deputados precisam saber que seu esforço apenas começa com esse programa de redução de danos.