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Opinião

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Tinga, Tinga

Muitos meninos brasileiros já sonharam em ter um pai que brilhasse como jogador de futebol profissional. Aos nove anos de idade, o filho do jogador Paulo César Tinga, do Cruzeiro, sofreu um baque injustificado, repentino e colateral ao sonho que viu se realizar.

Assistindo pela televisão ao jogo do Cruzeiro com o Real Garcilaso, pela Copa Libertadores, o menino foi confrontado com os insultos racistas que partiam da arquibancada peruana, dirigidos a Tinga quando ele tocava na bola.

Torcedores do Real Garcilaso --nome que homenageia um escritor mestiço do século 16, cronista dos abusos espanhóis contra os incas-- faziam sons e gestos de macaco.

Não é a primeira vez que um jogador recebe esse tratamento inaceitável. Para ficar entre os brasileiros, Roberto Carlos, na Rússia, Daniel Alves, na Espanha, Vágner Love, no Equador, foram alvo de ofensas semelhantes.

Quando o corredor negro Jesse Owens, na Olimpíada de 1936, em Berlim, derrubou o mito da superioridade racial nazista, vencendo seus concorrentes brancos, até os adeptos de Adolf Hitler reagiram com mais contenção do que esse tipo de torcedor futebolístico.

Tinga reagiu com serenidade à violência. "Acredito que esse ato seja coisa de uma minoria, que não é um comportamento geral do povo deles", declarou, acrescentando que trocaria os títulos que conquistou "por um mundo com igualdade entre todas as raças".

O episódio que viveu poderia ser um marco para que se dê um passo decisivo nessa direção.

Além da necessária punição aos times cujas torcidas se entregam a tais atitudes, cogita-se de homenagear, amanhã, o jogador insultado. Alguns partidários do Atlético Mineiro, arquirrival da equipe de Tinga, mobilizam-se para gritar seu nome no estádio.

Num país que, apesar de renitentes casos de racismo, orgulha-se de ter padrões mais razoáveis de convivência entre pessoas de todas as origens, valeria que o nome de Tinga ecoasse hoje e amanhã nas vozes de todas as torcidas, em todos os estádios --e não apenas no jogo entre Atlético e Cruzeiro.

Sede da Copa do Mundo, o Brasil tem papel importante a desempenhar na luta contra o racismo nos campos de futebol --e em todos os campos. Somos todos --brasileiros, peruanos, espanhóis ou russos-- os atingidos quando alguém é insultado por sua origem ou sua cor. Tinga somos todos nós.


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