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Ruy Castro

Exposição narcisista

RIO DE JANEIRO - Por que Sherlock Holmes, em seu tempo, conseguia solucionar qualquer caso policial? Porque só ele dominava certas disciplinas úteis à análise da cena do crime. Exemplos. Pela cinza no chão, sabia identificar a marca do charuto que o suspeito estivesse fumando. Pelo tipo de terra deixado pelos sapatos do criminoso, era capaz de deduzir de que região de Londres ele saíra. E, pela distância entre as pegadas do sujeito na lama, podia estabelecer o seu peso, altura, cor dos olhos, profissão e até preferências literárias --Dickens ou Thackeray?

A Londres de Sherlock era a de 1890, em que havia grandes marcas de charutos, as ruas eram de terra e, quando chovia, viravam um lamaçal. Hoje, quase ninguém mais fuma, as cidades são asfaltadas e os crimes, cada vez menos cometidos por leitores de Dickens ou de Thackeray.

Por outro lado, com a tecnologia atual, ficou quase impossível fazer alguma coisa errada e não ser descoberto. Se alguém mata na estrada e foge sem prestar socorro, logo aparecem imagens gravadas por uma câmera. Assaltar uma loja, fazer um arrastão num prédio ou matar 30 crianças numa escola, a mesma coisa --o criminoso nem sempre se dá conta de que está sendo filmado por todos os ângulos.

Vide o caso do rojão atirado contra o cinegrafista Santiago Andrade. Os acusados podem negar a autoria, culpar-se mutuamente ou até inventar um terceiro participante --na verdade, todos naquela cena foram assassinos de Santiago. Não importa. Até por solidariedade a ele, os cinegrafistas do Rio, em massa, estão examinando suas coberturas, quadro a quadro, em busca do passado dos dois "black blocs".

E há também a irrefreável tendência desse tipo de elementos a se gabar de suas façanhas pelas redes "sociais", como se tal exposição narcisista não pudesse um dia servir para incriminá-los.


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