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Opinião

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Um drama ucraniano

Conflitos que se iniciaram em Kiev se tornaram mais agudos na península da Crimeia, região com pretensões separatistas

Região autônoma de maioria étnica russa, mas integrada à Ucrânia desde 1954, a península da Crimeia transformou-se em palco para o segundo ato da crise geopolítica em que se enredou o país.

No prólogo, portentosas manifestações e violentos combates travados desde novembro na capital ucraniana, Kiev, levaram à deposição do presidente Viktor Yanukovich. Sua decisão de rejeitar um acordo comercial com a União Europeia, ainda que tomada sob forte pressão econômica da Rússia, fora o estopim para os protestos.

Insatisfeito com o desfecho, que levou ao poder um presidente interino mais aberto à Europa, o governo de Vladimir Putin pôs em cena a intimidação bélica. Tendo por pretexto a proteção a cidadãos de origem russa, pediu autorização ao seu Parlamento para usar as Forças Armadas na Crimeia.

Seria apenas um último recurso, explicou Putin. Enquanto isso, tropas sem identificação --agindo a soldo do Kremlin, segundo a imprensa internacional-- tomaram a sede do Legislativo da região e hastearam uma bandeira da Rússia; aeroportos e outros locais estratégicos também foram controlados.

Nesse momento, países ocidentais adentram o proscênio. EUA e União Europeia falam em violação da soberania territorial da Ucrânia, pedem o fim da movimentação militar na Crimeia e ameaçam impor sanções a Moscou.

Embora a tensão tenha aumentado, parece afastado o risco de um conflito militar. A Casa Branca e o Kremlin, como na Guerra Fria, têm mútuo poder dissuasório graças a seus arsenais nucleares.

Os países, além disso, são hoje muito mais conectados e interdependentes do que eram décadas atrás. Fluxos financeiros e comerciais entre União Europeia e Rússia, dentre os quais se destaca a maciça importação de gás natural e petróleo pelas nações ocidentais, funcionam como valiosos estímulos a uma solução diplomática.

Seria melhor que o terceiro ato desse drama fosse marcado pela retomada da legalidade e do respeito às instituições, a começar da eleição marcada para maio. O enredo, todavia, é mais complexo.

Em violação à Constituição do país, segundo a qual consultas populares sobre o território devem ter amplitude nacional, o Parlamento da Crimeia aprovou a anexação da região à Rússia e convocou, para daqui a dez dias, um referendo a fim de ratificar a medida.

Tal iniciativa foi condenada pelos EUA e pela União Europeia. Haveria desrespeito às leis ucranianas e ao que se convencionou aceitar em conflitos separatistas.

De fato, salvo em situações extremadas, o ideal é que toda a população do país, e não só a da região que pretende se emancipar, participe de um acordo, a ser construído sob a supervisão da ONU.

Diálogo, consulta popular e eleições nacionais, a fim de legitimar um novo governo. É disto que a Ucrânia precisa, e não da retórica típica do século passado.


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