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Hélio Schwartsman

Enxugando gelo

SÃO PAULO - Quando uma pessoa quer muito fazer algo irracional, é difícil impedi-la. Informação e persuasão só funcionam até certo ponto. Barreiras legais produzem algum efeito, mas elas vêm com um custo, tanto econômico como em termos de redução de liberdade que é pago pelo conjunto da sociedade.

Faço essas reflexões após ler o recém-divulgado informe anual de 2013 do Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, ligado à ONU. Como sempre, o foco principal do relatório é tentar justificar a própria existência do conselho, a cada ano mais espremido entre os resultados nada brilhantes da política de guerra às drogas por ele desposada e a tendência de países desenvolvidos de adotar posições liberalizantes.

O informe busca salvar a atuação do órgão afirmando que, não fosse pela linha proibicionista, o número total de dependentes químicos no mundo seria muito maior. Isso é em parte verdade. Se todas as drogas fossem legalizadas, mais gente as utilizaria e, com a maior exposição, é razoável esperar que houvesse aumento na proporção dos viciados.

A questão é que ninguém sabe o grau em que isso ocorreria. Para uma linha de estudiosos mais pessimistas, não há limite para o vício. Se 100% de uma população for submetida a um regime de ingestão forçada de drogas, ao cabo de algumas semanas teremos 100% de dependentes.

Para outros, porém, em condições naturais, isto é, sem a dieta obrigatória, o vício se torna um fenômeno bem mais raro. Na verdade, como sugerem alguns estudos, a grande maioria dos usuários de drogas tão variadas como álcool, heroína e crack jamais se torna dependente.

Se o segundo grupo tem razão, fica ainda mais difícil defender a linha proibicionista, que nos leva a gastar bilhões de dólares por ano e entrega, na melhor das hipóteses, uma estabilidade relativa na proporção de dependentes. É enxugar gelo a um custo financeiro e social exorbitante.


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