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Ruy Castro

Nos dois lados do espelho

RIO DE JANEIRO - Rivaldo, ex-jogador ainda em atividade e presidente do Mogi Mirim, protestou contra a possibilidade de seu clube ser punido pelas ofensas que alguns de seus torcedores dirigiram ao jogador Arouca, do Santos, na semana passada, chamando-o de macaco. Como cartola, talvez seja sua obrigação. Mas Rivaldo, como pessoa, não se sentiu atingido pela agressão. O irônico é que, em qualquer país que não o Brasil, ele seria tecnicamente classificado como negro.

Há pouco, a presidente Dilma, ao defender a tese da tolerância racial no Brasil, citou nossa capacidade de produzir jogadores negros. Sim, o Brasil os produz em série, embora fizesse melhor se produzisse também mais engenheiros, cientistas, médicos, físicos e sociólogos negros. E parece incrível, mas, em seus primórdios, o próprio futebol brasileiro dificultou a ascensão dos negros aos seus quadros. Se essa marginalização não tivesse sido superada, nossos clubes contariam hoje uma história bem diferente.

Não teríamos conhecido Friedenreich, Fausto, Domingos, Leônidas, Zizinho, Tesourinha, Barbosa, Bauer, Djalma Santos, Didi, Rubens, Índio, Baltazar, Canhoteiro, Garrincha, Manga, Pelé, Coutinho, Silva, Dirceu Lopes, Evaldo, Ademir da Guia, Jairzinho, Paulo Cesar, Carlos Alberto, Luiz Pereira, Zé Maria, Wladimir, Junior, Andrade, Adílio, Aldair, Zinho, Mazinho, Djalminha, Müller, Romário, Adriano, Juan, Alex, Rivaldo, sim, Ronaldo, Ronaldinho, Robinho e muitos mais, até Neymar.

O torcedor que insulta um adversário por ser negro faz de conta que o seu próprio time não tem jogadores negros --assim como as torcidas que se acusam de ser formadas por torcedores negros diferem muito pouco em sua composição.

Rivaldo deveria ser um exemplo de luta contra o racismo no fu- tebol brasileiro. Afinal, está nos dois lados do espelho.


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