Folha de S.Paulo

Ruy Castro

Sic transit

RIO DE JANEIRO - Pesquisa recém-divulgada pelo quase sagrado MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) acaba de estabelecer um "ranking de famosos" no planeta. O espectro não é nada modesto: de 4.000 a.C. a 2010. Milênios de manuscritos, enciclopédias e bancos de dados foram varejados e ponderados até se chegar à lista dos dez mais. E, antes que você diga os Beatles, segure esta: deu o filósofo grego Aristóteles na cabeça.

Os Beatles não pagaram nem placê. Em segundo lugar, vem outro filósofo e também grego: Platão. E, em terceiro, justamente aquele citado por John Lennon para medir a popularidade do conjunto: Jesus Cristo. "Nós somos mais famosos do que Cristo", disse Lennon em 1966. O mundo caiu-lhe em cima, como blasfemo e convencido, embora, na época, ele pudesse ter razão --os Beatles eram onipresentes de Tanganica a Tegucigalpa e do Tibete a Dores do Indaiá, enquanto Cristo sempre deu traço de audiência nos países islâmicos e budistas.

Fechando a lista do MIT, vêm Sócrates, Alexandre o Grande, Leonardo da Vinci, Confúcio, Júlio César, Homero e Pitágoras --a maioria, gregos e, exceto por Da Vinci, todos nascidos antes de Cristo, inclusive Cristo. Sem os Beatles. O critério consistiu em "mapear" as pessoas que mais influenciaram o pensamento até hoje e, por ele, não há o que discutir --devem ter sido mesmo os mais "famosos" dentro desse vasto círculo. (Deem-me alguns séculos, e eu apostaria em Millôr Fernandes entre os cem.)

Para os que não se conformam com o aparente declínio da popularidade dos Beatles, resta a revelação (deu na Folha outro dia) de que uma bela integrante do "Big Brother" atualmente no ar --uma jovem paranaense com o sugestivo nome de Tatiele Polyana-- nunca ouviu falar em Paul McCartney.

Mas certamente sabe tudo de Jesus Cristo. Sic transit gloria mundi.