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Opinião

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Entendendo o Cosmos

Se a primeira década do século 21 foi da biologia, com a decifração do genoma humano (2003), a segunda já pertence à física. Depois da detecção do bóson de Higgs em 2012, que deu a Peter Higgs e François Englert o Nobel de 2013, desta feita é uma peça basilar da teoria do Big Bang --a inflação cósmica-- que recebe apoio observacional.

Duas descobertas fundamentais sobre o âmago da matéria e a origem do Universo, em menos de dois anos, nada têm de usual. Não será surpresa se Andrei Linde e Alan Guth amealharem um dos próximos Nobel de Física por seu trabalho pioneiro sobre a inflação do Cosmos, de três décadas atrás.

O modelo de origem do Universo baseado na noção de um Big Bang há 13,8 bilhões de anos se tornaria incapaz, sem a inflação, de explicar muito do que os físicos observam e medem hoje no mundo.

Segundo o esquema inflacionário, a singular explosão que deu início a tudo que existe --espaço, tempo, energia, matéria-- passou por um instante peculiar antes de completar 10-32 segundo de idade (uma fração em que o denominador tem 32 zeros).

Nesse átimo, um Universo ainda menor que uma molécula passou a dobrar de tamanho uma vez a cada 10-37 segundo (outros cinco zeros naquele denominador).

A energia só se tornaria visível como luz 380 mil anos depois. Nada antes disso pode ser observado. Mas a teoria prevê que ali se produziram ondas gravitacionais --oscilações no espaço, como as que vemos na superfície de um lago. Seus resquícios foram agora detectados com o telescópio Bicep-2, na forma de variações sutis na polarização da radiação cósmica de fundo (uma espécie de halo, ou eco eletromagnético, do Big Bang).

As medidas feitas com o Bicep-2 sugerem ondas gravitacionais muito mais fortes que o previsto por cosmólogos. Procuravam uma agulha no palheiro e acharam um pé de cabra, disse um deles.

Dito de outra maneira, mesmo sem enxergar além do horizonte de 380 mil anos da primeira infância do Cosmos, a física cria maneiras indiretas de perscrutar sua estrutura antiga com ferramentas dedutivas e matemáticas.

O entusiasmo dos físicos com o achado é perceptível, mas eles preferem dosá-lo com cautela.

Há que confirmar os resultados, de preferência com outros instrumentos que não o Bicep-2, e tanto produzir como testar novas explicações para a magnitude das ondas ora corroboradas. Mas o pequeno passo dado tem tudo para ser um salto gigante da humanidade no entendimento do Cosmos.


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