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Ruy Castro

Nelson Tse-Tung

RIO DE JANEIRO - Certo dia, Nelson Rodrigues submeteu-se a uma cirurgia. Surgiram graves complicações e correu o boato de que não iria escapar. A "Última Hora" mandou um repórter entrevistá-lo: "Nelson, se você tivesse que morrer, quais seriam suas últimas palavras?". E Nelson, arquejante, com 39,9º de febre: "Você jura que publica? Então anota: Que boa besta é o Marx!'".

O próprio Nelson contou essa história numa crônica. Em outra, escreveu: "De vez em quando, vem um idiota dizer-nos nas salas, esquinas e botecos: Marx mudou a face do mundo'. Nada mais inexato. Foi o mundo que mudou a face de Marx. A Rússia, a China, Cuba e toda a Cortina de Ferro mudaram a face de Marx".

Stálin, "o pai dos povos", tampouco estava entre os seus favoritos: "O líder é um canalha. Vejam, por exemplo, Stálin. Ninguém mais líder. Um dia, os camponeses ensaiaram uma resistência. Stálin não teve nem dúvida, nem pena. Matou, de fome punitiva, 12 milhões de camponeses. Era um maravilhoso canalha e, portanto, o líder puro".

E ninguém ignora sua aversão a Mao Tse-Tung. Para Nelson, o líder chinês era a "maior senilidade da história", um "personagem de ópera-bufa" e portador de uma "barriga insubmersível" --além de também assassino de milhões. Enfim, nada disso é novidade para os leitores de Nelson. Eram as ideias fixas com que, nos anos 60 e 70, ele azucrinava a esquerda brasileira.

Mas as coisas mudam. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, mandou rodar 50 mil exemplares de um livro de crônicas de Nelson, "A Pátria de [sic] Chuteiras", para distribuição em escolas e bibliotecas. A seleção foi feita pelo próprio Aldo Rebelo, eminente cartola do PC do B --partido que, como se sabe, sempre se ditou caninamente por Marx, Stálin e Mao Tse-Tung. É refrescante saber que Aldo Rebelo trocou suas antigas admirações por Nelson Rodrigues.


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