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Opinião

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Roberto Luis Troster

Hermanos unidos

Uma linha de crédito em reais poderia ajudar importadores argentinos de produtos brasileiros a recompor suas reservas

O "Martin Fierro" é o livro nacional da Argentina --toda casa tem um. Publicado em 1872, narra a vida de um gaucho e sua visão de mundo. Sua leitura é fonte de sabedoria para o dia a dia. Na atual conjuntura, ele é imprescindível, mas está sendo ignorado.

O país vizinho passa por momentos difíceis, e os problemas, que não são poucos nem fáceis, estão se agravando. O governo argentino adotou como política econômica um marxismo keynesiano estapafúrdio. Teria tido um resultado melhor seguindo o tratado argentino.

Um ditado da obra é "Vivam com precaução. Ninguém sabe em que canto se esconde seu inimigo". Se tivesse sido aplicado à política fiscal lá, as dinâmicas das contas públicas e inflacionária não estariam na confusão que estão.

Pode ser complementado com "Nenhum vício acaba aonde começa", que é o outro lado da moeda, o populismo irresponsável. Num primeiro momento melhorou a situação de alguns e agora corre o perigo de piorar a de todos.

O mais apropriado para a situação atual é: "Os irmãos (los hermanos') sejam unidos, porque essa é a lei primeira. Tenham união verdadeira em qualquer tempo que for, porque, se brigam entre eles, são devorados pelos de fora".

Foi ignorado solenemente pelo governo, que adotou uma atitude belicosa interna e externamente. Na Argentina, criou conflitos com a imprensa, o campo, o comércio, o setor financeiro e a oposição; no exterior, angariou antipatias com muitos, as piores foram com vizinhos amigos. A quase totalidade das pelejas se deu por motivos fúteis ou imaginários.

Note-se que a as atitudes de um governante nem sempre refletem o sentimento de seu povo; 67,5% dos argentinos rejeitam a gestão da presidente Cristina Kirchner.

A atitude oposta foi a de José Mujica, presidente do Uruguai. Indiferente às picuinhas, que sempre existem entre vizinhos, enviou ao Parlamento um projeto de lei que outorga a residência permanente a todos os cidadãos dos países do Mercosul com a única exigência de provar sua nacionalidade.

A medida visa fortalecer e aprofundar o processo de integração do bloco. Futebol à parte, onde a rivalidade é total, Argentina, Brasil e Uruguai têm uma relação de irmãos.

Historicamente, o Sul do Brasil e o Uruguai fizeram parte do Vice-Reinado do Rio da Prata e a província Cisplatina já pertenceu ao Império brasileiro. Portanto, são irmãos desde sua origem. O Mercosul foi e é a materialização dessa relação.

Avanços consideráveis foram conseguidos desde sua criação em educação, cultura, esportes, turismo, diplomacia e economia. Atualmente, 19,4% das exportações de manufaturados do Brasil são destinadas à Argentina, e a renda de investimentos brasileiros lá foi de US$ 163 milhões em 2013.

Há muito mais que pode ser feito. Quanto maiores forem a integração e a riqueza dos vizinhos, melhor para todos. Atualmente, o relacionamento com a Argentina apresenta dificuldades. Podem ser entendidas pelo momento delicado que o país irmão atravessa e pela maneira peculiar com que o governo de lá administra o país.

A solução não é --como proposto por alguns-- um afastamento maior, mas justamente o contrário. Um fortalecimento da parceria teria benefícios palpáveis a curto, médio e longo prazos.

Algumas medidas emergenciais podem ser tomadas. Um exemplo positivo é a oferta de uma linha de crédito em reais para importadores argentinos de produtos brasileiros --comprariam a prazo e venderiam à vista para recompor suas reservas.

Enfim, o ponto é não se levar pelas circunstâncias adversas e continuar a criar um futuro comum com "los hermanos".


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