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Opinião

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Apetite russo

O que quer Vladimir Putin, presidente da Rússia? Na hipótese mais benigna, as escaramuças que ajuda a promover no leste da Ucrânia têm como objetivo principal persuadir o governo de Kiev a manter-se longe da Otan, a aliança militar ocidental. Seria uma espécie de "bullying" entre Estados.

Na versão mais inquietante, os apetites do autocrata não foram saciados com a anexação da Crimeia, sacramentada no mês passado, e ele ainda pretende abocanhar as cidades ou regiões da Ucrânia onde a população de origem russa é mais representativa.

Uma possibilidade intermediária é que Putin pretenda influenciar as eleições ucranianas, anunciadas para 25 de maio. Trata-se de sugerir aos votantes que escolher um governo ostensivamente anti-Rússia não seria sábio.

Qualquer que seja o caso, é improvável que os EUA e a União Europeia ultrapassem as reações protocolares, que podem, no máximo, incluir sanções econômicas de caráter mais simbólico que efetivo.

Na última rodada de retaliações, disparada por causa da Crimeia, as punições beiraram o cômico. Alguns amigos de Putin se viram proibidos de viajar aos EUA; em contrapartida, Moscou vedou a entrada de políticos norte-americanos na Rússia. O senador John McCain afirmou, jocosamente, que seus planos de passar as férias na Sibéria haviam sido frustrados.

Há, por trás desse jogo de cena, uma verdade que dirigentes ocidentais não podem admitir: na chamada "Realpolitik", a Ucrânia é o quintal da Rússia, e Putin fará ali mais ou menos o que quiser, ainda que seus impulsos possam -e devam- ser moderados por uma ação diplomática competente.

Nem os EUA nem a Europa, enfim, despacharão tanques para assegurar a soberania ucraniana.

De resto, Putin nem precisaria fazer o teatro bélico que tem encenado. Para dobrar as autoridades de Kiev, basta que ameace elevar o preço do gás do qual a Ucrânia depende -cerca de 80% dele é importado da Rússia.

Se Vladimir Putin vê seu poder aumentar por causa dessa situação, a interdependência econômica entre a Rússia e o Ocidente, em especial a Europa, tem um aspecto positivo: ela é hoje tão forte que confrontos de grandes proporções se tornam menos prováveis.

Isso significa que os ucranianos não terão muita ajuda, mas também que cenários como os da Guerra Fria dificilmente se repetirão.


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