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Opinião

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Carlos Heitor Cony

A herança maldita

RIO DE JANEIRO - Amigos e desconhecidos, quando esbarram comigo, ou eu com eles, costumam perguntar qual seria a maior herança do regime militar de 1964. Onde e em qual medida a ditadura contaminou a vida pública nacional no atual estágio em que se encontra.

Tenho uma resposta pronta: a corrupção. Evidente que houve tortura, assassinatos, censura implacável, desrespeito a todos os direitos humanos e, evidentemente, corrupção desvairada. Bem ou mal, tantas e tamanhas barbaridades ainda existem hoje, mas em grau menor em relação ao passado. Somente a corrupção não apenas ficou como aumentou consideravelmente.

O golpe de 1964 tinha como pretexto combater o comunismo e a corrupção. A Revolução Cubana de 1959 assustou as elites nacionais, a imprensa, a igreja, o empresariado. No contexto da Guerra Fria, que quase levou a humanidade para o holocausto nuclear, até uma potência imperialista deu e sustentou o regime totalitário aqui instalado.

A censura policial --nas artes (teatro, cinema, literatura, artes plásticas e música popular), na imprensa, nas universidades, no magistério e até mesmo alguns setores da Justiça e da economia--, apesar de ter transmitido um DNA comprometedor, ainda não atingiu o nível de boçalidade dos anos de chumbo.

Repetindo alguns exemplos da história universal, mesmo a falta de liberdade e a truculência da repressão não impediram a produção de obras importantes em quase todos os setores da vida cultural e artística.

Somente a corrupção continuou em escala vergonhosamente ampliada. Um balanço nas primeiras páginas dos jornais e revistas, as manifestações de rua reprimidas com gases e cassetetes, ônibus incendiados, depredações, além de expressarem a revolta popular, escancaram uma era de escândalos sucessivamente piores e, geralmente, impunes.


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