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Henrique Capriles Radonski

Os protestos na Venezuela em em Debate

Duas metades não fazem um país

O presidente Nicolás Maduro se negou a escutar as demandas do povo como se seu interesse fosse radicalizar o protesto reprimindo-o

Nosso povo teve nesta semana, pela primeira vez em 15 anos, a oportunidade de escutar outras vozes; de comparar dois modelos. Um defendendo a si mesmo, e o nosso, defendendo a união.

A Venezuela é um país com mais futuro do que presente, embora o governo insista em um discurso ancorado no passado, com o qual pretende dividir, e não multiplicar soluções. Insistiremos em temas sensíveis como a falta de segurança, a escassez, o alto custo de vida e a crise hospitalar.

O governo de Nicolás Maduro não tem um ano --sua equipe é a mesma do presidente Hugo Chávez (1954-2013). Já são 15 anos de um governo incapaz de atender às necessidades do país. Duzentos mil homicídios no período demonstram que a impunidade está na ordem do dia, sob o olhar cúmplice do governo. O valor de nossa moeda (o bolívar, que chamaram de forte) desabou, e a cada desvalorização, os pobres ficam mais pobres.

Importamos 80% dos alimentos que consumimos. Temos a mais alta inflação do continente. A anual chega a 59,4%, e a dos alimentos é de 74,5%, segundo a ONU, sendo que a média na América Latina é de 10,7%. Ir ao mercado na Venezuela é humilhante. Somos marcados no braço como se fôssemos animais. Temos os mais elevados níveis de escassez da história --31% em março. Isso gera longas filas quando chega um produto de primeira necessidade, como leite ou papel higiênico.

Esses não são os únicos problemas. Este governo continua acusando os meios de comunicação privados de fazer uma campanha midiática, quando a verdade é que a maioria dos canais de rádio e televisão está em suas mãos.

Nós, governadores e prefeitos eleitos pelo povo, temos que lidar com decisões federais contrárias à Constituição. Sem sentença, despojaram do cargo prefeitos eleitos e criaram organismos paralelos em Estados onde perderam as eleições, como ocorreu em nossa Miranda. Na Assembleia Nacional, nossos deputados sofrem represálias.

Os protestos são uma combinação da deterioração da qualidade de vida com a falta de mecanismos institucionais para expressar o descontentamento. Maduro se negou a escutar as demandas do povo como se seu interesse fosse radicalizar o protesto reprimindo-o.

Para sairmos dessa profunda crise política, temos que deixar as diferenças de lado e sentar para dialogar, de maneira transparente. A igreja pode desempenhar o papel de mediadora, e nos agrada saber que o papa Francisco apoia o diálogo na Venezuela. Fomos ao Palácio de Miraflores, porque sabemos, tal como Gandhi e Luther King, que o diálogo é a principal ferramenta para aqueles que querem justiça e se negam a utilizar a violência como método.

A América Latina tem antecedentes valiosos como o discurso de Patricio Aylwin, em 1990, então presidente do Chile, sobre a necessidade de restabelecer o respeito entre os chilenos, "sejam civis ou militares". Apesar do repúdio, espetou: "Sim, senhores, civis e militares, porque o Chile é um só". Os chilenos conseguiram construir a unidade aceitando que a culpa de alguns não pode comprometer todos.

O caminho na Venezuela é longo, mas está claro que duas metades não fazem um país. Dialogar não significa abrir mão de ideias, mas achar um ponto de encontro e reconhecimento. O diálogo deve começar com a libertação dos presos políticos, como Leopoldo López e Iván Simonovis, e dos estudantes; o desarmamento dos paramilitares, munidos pelo governo; o fim da censura à mídia; e o respeito aos direitos humanos.

Maduro não pode continuar fabricando teorias da conspiração em que anônimos tentam derrubá-lo. Precisa entender que ou isso muda ou o país explode. A bola está com ele. É sua responsabilidade histórica pôr fim à violência e à repressão e realizar mudanças para revitalizar a economia e restabelecer a democracia.


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