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Hélio Schwartsman

Ainda pior

SÃO PAULO - Volto mais uma vez (e espero que seja a última) ao tema da grávida submetida "manu militari" a uma cesariana. Alguns leitores chamaram atenção para o fato de eu frequentemente defender éticas consequencialistas, isto é, que julgam ações do ponto de vista de seus resultados (e não de princípios abstratos), mas, ainda assim, opor-me a uma intervenção que, na prática, produziu uma mãe e um bebê saudáveis. É um bom ponto.

Meu apoio ao consequencialismo sempre foi crítico, entre outras razões porque, exceto em jogos filosóficos, nunca temos acesso a todas as informações relevantes para decidir um caso. Um bom consequencialista não hesitaria muito antes de matar um megagenocida em atividade e, assim, elevar o bem-estar da humanidade. Mas será que isso é mesmo o melhor? Que garantia temos de que esse monstro não teria um filho que descobriria a cura do câncer?

No mundo real, toda ação é cercada por uma densa nuvem de incerteza. Com o objetivo de dissipá-la, fiamo-nos na experiência passada, que pode vir embalada em vários formatos, como protocolos médicos, tabelas atuariais, estatísticas e leis.

Filósofos com pendores utilitaristas não ficaram alheios ao problema da informação incompleta e esse é um dos motivos pelos quais, nas formulações mais modernas do consequencialismo, ganha espaço o chamado consequencialismo das regras. Em vez de tentar calcular o valor positivo ou negativo de cada ato individual, nós o fazemos em relação a regras. Uma norma como o "não matarás" é boa, não porque foi ditada por Deus, mas porque tende a produzir mais felicidade do que sofrimento.

É nesse mesmo caso que se encontra o princípio segundo o qual as pessoas devem ser livres para tomar suas próprias decisões. Ainda que de vez em quando o desfecho não seja favorável, é razoável supor que seu avesso (limitação da liberdade) produziria consequências ainda piores.


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