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Opinião

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Mão dupla nas estradas

Costuma ser frustrante a sensação de que todo problema social rejeita soluções unilaterais e simples. Quanto mais se conhecem as causas de um fenômeno --da criminalidade urbana às deficiências na educação--, fica evidente que não existem passes de mágica.

Não será com magia que diminuirão os acidentes nas rodovias federais. Em todo caso, um levantamento noticiado nesta Folha merece ser encarado com algum otimismo --se cabe o termo diante dessa tragédia nacional (44.553 mortes em acidentes de transporte em 2011, segundo o Datasus).

Analisaram-se planilhas da Polícia Rodoviária Federal que detalhavam as circunstâncias de quase 15 mil acidentes nos principais feriados de 2013. A conclusão é que parcela significativa dos casos fatais ocorreu em trechos relativamente curtos, e facilmente identificáveis, das estradas do país.

Houve 759 mortes no Carnaval, na Páscoa, no Natal e no Ano-Novo de 2013. No entanto, 21% delas ocorreram em 27 pequenos segmentos viários, que equivalem a apenas 2% da malha nacional. Correspondem, na maioria, a áreas sinuosas de serra, sem duplicação, ou a locais próximos de centros urbanos, com muitos pedestres.

O custo médio para a duplicação de estradas, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, subiu 34% de 2010 a 2013, contra uma inflação de 19%. No ano passado, entretanto, caiu em 8% o investimento federal, em comparação com 2012.

O fato de ser possível apontar com precisão os trechos mais perigosos das rodovias permitiria tornar mais eficientes as medidas de prevenção de acidentes, mas não é o que se observa. Relativiza-se, ademais, a costumeira (e em termos gerais correta) responsabilização dos motoristas pelos acidentes.

Sim, é esmagadora a proporção dos casos (93,8%) em que as tragédias ocorrem por alguma falha humana. Cabe decerto ao condutor (e a recomendação se renova às vésperas de mais um feriado) redobrar sua prudência nos trechos perigosos. Mas o caminhoneiro exausto e sonolento, o turista distraído ou o neófito no percurso não se tornam repentinamente insanos no trecho que vai do km 300 ao km 360 da rodovia Régis Bittencourt, por exemplo.

Se mais acidentes ocorrem ali, é que houve dissonância entre a atenção do condutor e a qualidade da rodovia. A solução é de mão dupla, e não está tão distante assim.


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