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Ruy Castro

No dia de hoje

RIO DE JANEIRO - Há exatos 40 anos no dia de hoje, eu estava em Lisboa a serviço da edição em língua portuguesa de "Seleções do Reader's Digest". Era editor-executivo e cuidava com prazer de seus artigos sobre tipos inesquecíveis, cachorros-prodígio e milagres da medicina. O trabalho tomava 15 dias, com o que sobravam outros 15 para flanar pelo Rossio, ir aos sebos do Chiado e comer caris de gambas nos indianos.

Portugal vivia sob uma ditadura de 48 anos. A qual nos ignorava e nós a ela, mesmo porque não havia dinheiro para produzir artigos locais, contra ou a favor, e tínhamos de nos limitar a traduzir e adaptar a edição americana. Era um tédio, mas confortável. E então, na madrugada de 25 de abril de 1974, tanques rolaram sobre as ruas de Lisboa e a velha ditadura caiu --como se diz?-- da noite para o dia.

Lambi os beiços. Que oportunidade para um jornalista brasileiro, não? Não. Os patrões em Pleasantville (NY) deram uma ordem: a revista não produziria nenhum texto que pusesse em risco sua permanência em Portugal. Ou seja, estávamos fora da cobertura.

Não me abalei. Fui ao escritório comercial da "Manchete", no térreo do Hotel Ritz, e pedi à sua gerente, Maria do Amparo, que oferecesse meu material à Redação no Rio. Justino Martins, diretor da revista, topou e, em 24 horas, já recebia a primeira matéria: um relato febril dos acontecimentos no "dia mais longo de Lisboa". Foi capa da "Manchete".

Pelos três meses seguintes, o assunto rendeu. Mandei um texto (sempre empolgado) por semana, dei notícias em primeira mão e emplaquei outras duas capas. Pena que não pudesse assinar. O crédito era "Da sucursal de Lisboa" --que não existia. Até que Adolpho Bloch se deu conta de que a "Revolução dos Cravos" ia contra seus interesses em Portugal e cortou minha colaboração. Mas, quer saber? Valeu!


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