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Ruy Castro

Nasce o liberou geral

RIO DE JANEIRO - Morreu em Londres, aos 95 anos, Richard H. Hoggart, um ensaísta literário. No mundo em língua inglesa, Hoggart nunca teve o prestígio de Edmund Wilson, Kingsley Amis ou Harold Bloom. Mas foi a quem ficamos devendo, em 1960, a liberação do romance "O Amante de Lady Chatterley" como D. H. Lawrence o escreveu em 1928 --sem os cortes com que foi obrigado a circular desde o começo.

Talvez à falta de outros de maior peso, Hoggart foi chamado a depor a favor da Penguin Books, num processo em que esta era acusada de obscenidade por rodar 10 mil exemplares de "Lady Chatterley" sem o expurgo de certas palavras. As quais tratavam o ato sexual e os órgãos masculino e feminino por seus nomes na vida real. Numa Inglaterra às vésperas de 007, dos Beatles e da minissaia, o uso dessas palavras na literatura ainda era uma questão de Estado.

Diante dos jurados (nove homens e três mulheres), Haggart argumentou que não havia nada de imoral no romance entre a aristocrata Constance Chatterley, de marido impotente, e seu rude empregado Mellors. Ao contrário, ele disse, a história era o embate entre o corpo e a mente, levando à conclusão de que um não pode viver sem o outro. Nesse sentido, o livro era quase "puritano". Quanto às palavras chulas, Haggart sustentou que, à medida que iam se repetindo, elas perdiam a "jaça da blasfêmia" e pareciam "purificar-se progressivamente". Nelson Rodrigues não diria melhor.

A Penguin foi absolvida e dedicou sua edição seguinte de "Lady Chatterley" aos 12 jurados. Com isso, abriram-se as comportas e não me consta que, desde então, algum livro tenha sido proibido no Reino Unido como imoral.

"Chatterley" é, hoje, leitura para berçários. Mas, se os escritores britânicos fizeram bom ou mau uso desse liberou geral, a questão tornou-se apenas estética. Como deve ser.


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