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Ruy Castro

A falsa preguiça

RIO DE JANEIRO - No centenário de Dorival Caymmi, iniciado no dia 30 de abril último, não faltaram insistentes referências à sua propalada preguiça. Dizia-se que ele passava o dia na rede, tocando violão à toa, feliz da vida.

Mas alguém já fez as contas? E se Caymmi tiver sido autor de uma prodigiosa obra --também em quantidade? Vejamos. Em seus 50 anos mais produtivos, de 1938 a 1988, dos 24 aos 74 anos, ele nos ofereceu 85 canções com letra e música de sua autoria e 27 com parceiros. A soma dá 112 e a média, 2,2 canções por ano --pouco mais de uma por semestre. "É pouco", dirão alguns. Será?

E se forem sambas como "O Que é Que a Baiana Tem?", "A Vizinha do Lado", "Dora", "Doralice", "Rosa Morena", "Requebre Que Eu Dou um Doce", "João Valentão", "Vestido de Bolero", "Lá Vem a Baiana" e "Samba da Minha Terra"; sambas-canções como "Marina", "Não Tem Solução", "Sábado em Copacabana", "Nunca Mais", "Só Louco" e "Nem Eu"; canções do mar como "Quem Vem Pra Beira do Mar", "É Doce Morrer no Mar", "A Jangada Voltou Só", "Rainha do Mar" e "História de Pescadores"; canções "baianas" como "Saudade da Bahia", "A Lenda do Abaeté", "Acontece Que Eu Sou Baiano", "Coqueiro de Itapoã", muitas outras; ou a valsa "...das Rosas"? E o trabalho que dá para fazer cada uma dessas e tantas outras obras-primas?

Nesse período, Caymmi gravou 28 discos avulsos, de 78 rpm, e pelo menos 17 LPs com 12 faixas cada, num total de quase 300 fonogramas. Levou anos sob contrato das rádios Nacional, Mayrink Veiga e Tupi, apresentando-se toda semana. Nos anos 50 e 60, cumpriu muitas e longas temporadas em boates do Rio e de São Paulo. Fez shows no exterior, cinema e TV, publicou um livro e pintou inúmeros quadros. Pintou também o sete.

E ainda teve tempo para fazer Nana, Dori e Danilo. Como pode ter passado a vida na rede?


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